No ensolarado feriado desta quinta-feira (15), a vizinhança e os pedestres que circularam pelas calçadas da Avenida Ipiranga e da Rua Professor Freitas e Castro, vias que compreendem o Palácio da Polícia, em Porto Alegre, sentiram um forte mau cheiro que emanava principalmente das imediações do Departamento Médico Legal (DML). Uma das atribuições da repartição é acondicionar os corpos de vítimas de morte violenta. Há casos de cadáveres que permanecem por dias ou até meses no local, principalmente em casos de óbitos de pessoas não identificadas.
Agressivo e repentino, o odor era percebido na portaria no DML, na Avenida Ipiranga, mas se intensificava nos fundos do prédio, onde causava náuseas em quem percorria as delegacias especializadas que se concentram na Rua Professor Freitas e Castro.
Em um dos trechos, era possível avistar um caminhão equipado com câmara fria parado no pátio interno do Palácio da Polícia, na parte dos fundos. De tempo em tempo, o sistema de refrigeração do veículo era acionado automaticamente. Estacionado em estreito corredor e ladeado por um portão parcialmente fechado, o caminhão tinha atrás de si outros dois veículos refrigerados, pelo menos um deles do Instituto-Geral de Perícias (IGP).
O diretor do DML, Luciano Haas, explicou que uma empresa terceirizada efetuou serviço de limpeza e de conserto na câmara fria onde ficam 54 gavetas usadas para o repouso de cadáveres. A manutenção somente poderia ser feita com a desocupação e descongelamento da estrutura. Para atender esse requisito, equipes do DML, em mutirão, esvaziaram a câmara na quarta-feira e transferiram os corpos para o caminhão de congelamento alugado. Nesta quinta, os reparos foram feitos até às 16h.
O conserto foi necessário porque alguns ventiladores que ficam no teto da câmara fria haviam estragado "há tempo", informou Haas. São engrenagens no sistema de congelamento dos quatro andares de gavetas para cadáveres. Com a estrutura funcionando parcialmente, houve sobrecarga e um dos dois compressores – item responsável por reduzir a temperatura – pifou há cerca de 20 dias.
– Não tinha como consertar a câmara com os corpos dentro. Fizemos o que foi necessário. Se já é ruim para a vizinhança, imagine para quem trabalha ali. O cheiro é terrível. Amanhã (sexta) pela manhã vamos ter outro mutirão para recolocar os corpos dentro da câmara. Deve gerar cheiro novamente – avisa o diretor, projetando que a situação deve voltar à normalidade durante o final de semana.
Ainda na região de odor mais perceptível, um bilhete estava afixado na porta da Policlínica da Polícia Civil. O texto informava que a unidade estará fechada entre os dias 16 e 18 de junho para desratização e desinsetização.