Depois de causar problemas em pelo menos 150 países, incluindo o Brasil, o megaciberataque deflagrado na última sexta-feira deixou em alerta organizações que, até então, relegavam a segurança da informação ao segundo plano. A avaliação é do professor Leonardo Lemes Fagundes, coordenador do curso de Segurança da Informação da Unisinos.
Sobretudo na Europa e na Rússia, milhares de computadores foram afetados pela ofensiva cracker, que usou uma falha do Windows para se espalhar. Os criminosos exigiram o pagamento em bitcoins (moedas virtuais) para reativar os sistemas infectados, fazendo mais de 200 mil vítimas – entre as quais, hospitais na Inglaterra e gigantes do setor privado, como a Telefónica e a Renault. No jargão técnico, esse tipo de ataque é chamado de ransomware.
– Nunca havíamos visto nada assim – disse o diretor da Europol, Rob Wainwright, à rede britânica ITV, referindo-se ao alcance da ação.
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No Brasil, também houve transtornos, mas o impacto foi menor, atingindo órgãos como o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) e o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Mesmo assim, Fagundes diz que o susto já começou a surtir mudanças no meio empresarial, inclusive no Rio Grande do Sul. A principal delas é a consciência de que "é preciso investir em segurança operacional".
– Esta segunda-feira será um dia muito esperado pelos profissionais de segurança da informação. Eles vão bater na porta da diretoria e dizer: agora vocês vão acreditar no que eu digo? Os crackers deram uma demonstração de força – afirma Fagundes.
O especialista revela que, extraoficialmente, foi procurado por executivos do Sul do país em busca de orientações. Algumas empresas, segundo ele, "passaram o fim de semana atualizando sistemas".
– Não foi um ataque inovador. Conhecemos o ransomware desde 1980. O que aconteceu foi claramente um atestado da negligência das corporações. O que preocupa é que não sabemos como serão os próximos meses. Certamente vão surgir novas versões do ataque, e as empresas precisa se preparar para isso – conclui o analista.
O que aconteceu
- Na última sexta-feira, milhares de computadores em pelo menos 150 países, sobretudo na Europa, foram atingidos por um superataque cibernético. A Rússia foi uma das mais atingidas.
- Os criminosos espalharam um vírus que se beneficia de uma falha do Windows, principalmente a versão Windows XP.
- Chamado "WannaCry", o vírus bloqueia o acesso aos arquivos do usuário e pede dinheiro, por meio da moeda virtual bitcoin, para liberar o sistema.
As vítimas
- As principais vítimas foram hospitais britânicos, a empresa espanhola de telecomunicações Telefónica, a fabricante francesa de automóveis Renault, a empresa de correios americana FedEx, o ministério do Interior russo e a operadora de ferrovias alemã Deutsche Bahn.
- No Brasil, os mais afetados foram o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) e o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Funcionários do banco Santander e da Vivo também relataram problemas, mas as assessorias negaram.
Os autores
- Até este domingo, os crackers – como são chamados os indivíduos que praticam a quebra (ou cracking) de sistemas de seguranças de forma ilegal – não haviam sido identificados pelas autoridades.
Como se proteger
- A primeira medida a tomar é atualizar o Windows, independentemente de que versão você tiver no seu computador.
- A Microsoft reativou a atualização de versões mais antigas. Segundo a empresa, o novo sistema operacional Windows 10 não foi atingido pelo ataque.
- A segunda medida a ser adotada é manter um bom antivírus, que ofereça atualizações frequentes.
- Por fim, é importante fazer, sempre, uma cópia de segurança dos dados e arquivos importantes que você mantém no computador.