Citada na delação do ex-executivo da Odebrecht Pedro Novis como possível beneficiada por caixa 2, a ex-deputada federal Luciana Genro (PSOL) contestou a suspeita ao vivo, neste sábado, em sua conta no Facebook. No vídeo, ela apresentou e-mails datados de 2013, nos quais rejeitou pedido da empreiteira para que interferisse a favor dos interesses do grupo no Rio Grande do Sul.
Luciana não integra a lista de investigados apresentada pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), e também não é alvo de nenhuma das 201 petições encaminhadas pelo magistrado a juízes de outras instâncias.
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A menção à ex-deputada aparece na delação relacionada à petição de número 6.817, aberta contra o ex-governador Germano Rigotto (PMDB) por suspeita de recebimento de recursos ilícitos de campanha. Na mesma delação (reproduzida abaixo), também são apontados por Novis nomes como o da ex-governadora Yeda Crusius (PSDB) e dos deputados federais Pepe Vargas e Marco Maia, ambos do PT.
Rigotto, apontado na petição, Yeda e Maia, que tiveram inquéritos abertos no STF, negam envolvimento nas irregularidades. Quanto a Pepe, o deputado não faz parte da lista da Fachin. Procurado por ZH para comentar a fala de Novis, ele não atendeu às ligações da reportagem no fim da tarde deste domingo.
A partir dos 19min50s da gravação, o delator é questionado sobre que políticos, além de Rigotto e Yeda, teriam obtido caixa 2 da Braskem, braço da Odebrecht no Estado, para campanhas no Rio Grande do Sul. Confira como se desenrolou o diálogo entre ele e o promotor, cujo nome não foi divulgado:
Novis: Doutor, eu tenho a informação de ouvir falar de alguns deputados federais que foram apoiados com recursos de caixa 2, que constam do meu anexo, como é o caso da deputada Luciana Genro, do deputado Pepe Vargas, do deputado Marco Maia. Mas isso...
Promotor: Mas foi caixa 1 ou caixa 2?
Novis: Caixa 2.
Promotor: Tudo caixa 2?
Novis: Isso... não teve como recuperar... nós não falamos...
Promotor: Mas essa informação foi de gente da Braskem?
Novis: Foi da época, do próprio Alexandrino e do diretor regional lá. Comentavam que esses recursos estavam sendo para atendimento a essas pessoas.
Promotor: Então o senhor não tem mais nenhum detalhe de valores, de como foi pago?
Novis: Não, senhor.
Promotor: Isso foi na eleição de 2006?
Novis: Isso foi... eu não tenho isso aqui anotado... 2002 ou 2006... Desses três que estou lhe citando, mas é provável que tenha sido em 2006.
Promotor: Então, além desses deputados, além dos governadores, houve pagamento de... via caixa 2 para esses deputados que o senhor mencionou.
Novis: Sim, senhor.
Promotor: Agora, isso passou pelo senhor em que nível? Foi só um ouvir dizer ou o senhor deu a concordância para que fosse feito? Alguém foi pegar o aval do senhor?
Novis: Não, não, foram só comentários [....]
Após a suspeita vir a público, Luciana, que também foi candidata à Presidência da República e à prefeitura de Porto Alegre, rechaçou a acusação, lembrando que o ministro Fachin sequer encaminhou o seu nome para outras instâncias.
– Eu quero, primeiro, reafirmar um fato absolutamente claro, que é o fato de que eu jamais recebi recursos da Odebrecht para campanhas eleitorais, nem caixa 1, nem caixa 2 – disse Luciana.
– Eu tenho a alegria de ter a possibilidade de provar que jamais me vendi para a Odebrechet – complementou.
Em seguida, ela apresentou e-mails trocados em 2013 com outro ex-executivo da Odebrecht, Alexandrino de Alencar, nos quais negou pedido para que interferisse a favor da empresa no Rio Grande do Sul.
A troca de mensagens (confira a íntegra abaixo) começou com a ex-deputada perguntando a Alencar se seria possível manter a parceria da Fundação Odebrecht com o Emancipa, ONG de educação popular fundada por ela em 2011. Em resposta, Alencar reclamou que o "pessoal da DS", uma das correntes do PT, atrapalhava a atuação da Foz do Brasil (subsidiária do grupo) no Rio Grande do Sul, durante o governo de Tarso Genro (PT), pai de Luciana.
No e-mail seguinte, Luciana respondeu:
A seguir, confira toda a troca de mensagens entre ela e o ex-executivo da companhia no Estado, Alexandrino de Alencar, ocorrida em 2013:
(1)
Luciana Genro 14 de novembro de 2013 13:41
Para: Alexandrino Alencar
Oi Alexandrino,
Tudo bem?
Te escrevo para saber como andam as coisas, se podemos ter alguma expectativa na continuidade da nossa parceria, mesmo que com valores reduzidos. Ainda não temos os resultados do ENEM, e o vestibular da UFRGS é só em janeiro. Entretanto estamos nos programando para o ano que vem e se não tivermos uma perspectiva terei que demitir os professores em dezembro pois nossos recursos terminam em janeiro e não podemos ficar com dívidas. Tens condições de me dizer alguma coisa até o final de novembro?
Obrigada!
Abraço, Luciana
(2)
Alexandrino Alencar 18 de novembro de 2013 15:30
Para: Luciana Genro
Luciana
A turma da DS não deixa o pessoal da Foz desenvolver um belo trabalho no RS.Vou a luta.Vamos marcar um jantar de final de ano aí para ver o que podemos fazer. Minha esperança é a RS 010. Estarei indo para a china com seu pai na volta falamos.
Abs Alexandrino
(3)
Luciana Genro 19 de novembro de 2013 17:56
Para: Alexandrino Alencar
Alexandrino,
Sei que sabes, mas nunca é demais repetir, que eu não trato destes assuntos com o meu pai, e se tratasse meu posicionamento político não seria favorável aos interesses da Odebrecht. Por isso, diante da condição que colocas, entendo que o melhor é encerrarmos a parceria. Realmente não me sinto mais à vontade para solicitar recursos para o Emancipa nestas condições.
Agradeço pelo apoio até aqui.
Um abraço, Luciana.
(4)
Alexandrino Alencar 19 de novembro de 2013 18:17
Para: "lucianagenro@gmail.com"
Luciana
Acho que não me expliquei bem.Em nenhum momento quero ligar o belo projeto do Emancipa com o governo estadual, seja quem seja esteja no comando. Todas as nossas empresas que se envolvem ou se envolveram no Emancipa estão engajadas, pelo belo trabalho que vem sendo realizado, aliás muito alinhado com o que a Fundacao Odebrecht tambem realiza no baixo sul da Bahia..
Os donos do orçamento são os nossos negócios e só eles tem os recursos,por isso e que devo estar atento para os movimentos empresariais internos,para mostrar a importância do Emancipa,não só para o RS mas sim uma filosofia para as comunidades.
Luciana, tanto como você sou um idealista para as causas justas,estruturadas e modernas para a sociedade. Por isso deixa eu ver se no grupo temos alguma empresa abrace NOSSA causa.
Abs
Alexandrino