Duas vezes candidata à Presidência da República e principal liderança da Rede Sustentabilidade, Marina Silva vê na proposta do voto em lista fechada, em discussão na Câmara, a intenção de garantir foro privilegiado aos políticos investigados na Operação Lava-Jato. A ex-senadora vai além.
Via Rede, pretende capitanear campanha pela aprovação de emenda à Constituição para liberar candidaturas avulsas nas eleições. Ela acredita que é preciso quebrar o monopólio dos partidos sobre a política institucional.
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De passagem por Brasília, Marina concedeu entrevista a Zero Hora, na qual comentou as mudanças avaliadas na reforma política, defendeu a urgência na cassação da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e deixou em aberto a definição sobre uma terceira tentativa de chegar ao Planalto, em 2018.
Qual a sua opinião sobre a proposta de reforma política em discussão na Câmara? Agradou o financiamento público?
Sempre concordei que o financiamento privado era uma mazela contrária à nossa democracia, com o resultado escancarado pela Lava-Jato. Agora, o financiamento público não pode ser na proporção sugerida, mais de R$ 2 bilhões. O que era feito pelo abuso do poder econômico, via desvio de recursos, agora vai ser institucionalizado no orçamento público, tomando o direito do contribuinte, para manter campanhas milionárias.
E a proposta de lista fechada na eleição de deputados?
Isso é uma deformação política. A lista fechada é para que os partidos coloquem dentro dela aqueles que querem foro privilegiado, por medo de serem algemados. Sou contra e acho que a sociedade brasileira deve se insurgir sobre o monopólio que os partidos querem exercer sobre o seu voto. Eles já têm o monopólio da política institucional. Falo isso sem demérito, porque também tenho uma sigla. Nas democracias evoluídas, de cada 10 países, pelo menos nove têm mecanismo que possibilita candidaturas sem legenda. É uma forma de quebrar o monopólio dos partidos, porque eles vão se transformar em autarquias financiadas pelo dinheiro público. Nem todos os cidadãos gostariam de financiar esse ou aquele partido.
A Rede vai tentar incluir na reforma política as candidaturas avulsas?
Vamos trabalhar para conseguir as assinaturas de 171 parlamentares, porque é uma proposta de emenda à Constituição, mas também estamos dialogando com vários setores da sociedade. Muitas pessoas gostariam de ver a quebra do monopólio dos partidos. Agora, algumas das propostas colocadas (na reforma política) devem ser avaliadas. Sempre fui contra a reeleição e defendo isso desde 2010, quando fui candidata pela primeira vez. A reeleição na América Latina é um desserviço. As pessoas não fazem o que é necessário ao país, fazem o que é necessário ao seu projeto de poder, para a sua reeleição.
Diante do que a Lava-Jato revela sobre o financiamento das campanhas, a senhora se considera prejudicada na eleição de 2014?
Houve uma fraude eleitoral. A Lava-Jato está comprovando que não só abusaram do poder econômico como usaram recursos desviados da corrupção pelo expediente de caixa 2. A Justiça criminal está comprovando fartamente que houve fraude eleitoral. A Justiça Eleitoral precisa ser igualmente exemplar, cassando a chapa Dilma-Temer. O uso do poder econômico, a fraude eleitoral pela corrupção, com campanhas milionárias, pagando marqueteiros a peso de ouro para espalhar mentiras contra adversários, é um golpe na democracia.
O que a senhora achou da decisão do TSE de adiar o julgamento da chapa Dilma-Temer?
A sociedade tem urgência. A chapa Dilma-Temer se elegeu usando expediente do caixa 2 e do dinheiro da corrupção, como está sendo comprovado no âmbito da Lava-Jato. É a oportunidade que a Justiça Eleitoral tem de mostrar para os contraventores, os que praticam o crime eleitoral, de que ele não compensa.
Em 2018, há uma nova eleição presidencial. A senhora vai concorrer mais uma vez?
Essa é uma decisão que será tomada em um debate com o discernimento correto sobre qual é a melhor forma de contribuir. Neste momento, ficar discutindo quem é candidato é um desserviço à nação. Esse é o momento de estar voltado para passar o Brasil a limpo. Quais são as melhores alternativas que acabam com os casuísmos, os oportunismos, os meios que favorecem os corruptos e os corruptores e, principalmente, os fraudadores da democracia. Esse debate é o mais importante neste momento.