Os sete políticos gaúchos que respondem a inquérito no Supremo Tribunal Federal são suspeitos de ter recebido R$ 9,9 milhões em propina e caixa 2 da Odebrecht. O valor equivale a pouco mais de 2% de todo o dinheiro movimentado pelos 98 integrantes da lista de Fachin delatados pela construtora.
Do montante supostamente entregue aos gaúchos, mais da metade teria como destinatário o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB). Segundo o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho, Padilha teria recebido R$ 4 milhões via caixa 2 para campanhas eleitorais do PMDB em 2014. Além disso, outros dois ex-dirigentes da empreiteira, Benedicto Junior e Valter Lana, relataram ter pago ao ministro mais R$ 1,49 milhão a título de propina nas obras de ampliação do trensurb. O peemedebista teria solicitado 1% sobre o valor do contrato para "ajudar no processo licitatório". Nas planilhas da Odebrecht, Padilha aparece identificado pelo codinome "Bicuíra".
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Junto a Padilha no mesmo inquérito está o deputado Marco Maia (PT). O petista, contudo, teria solicitado uma porcentagem menor do contrato (0,55%), correspondente a R$ 734,7 mil. Maia, o "Aliado" e "Gremista", ainda teria recebido R$ 1,35 milhão para a campanha à reeleição em 2014. No total, o petista alcança R$ 2,08 milhões na contabilidade da empreiteira.
O trio de políticos beneficiados com cifras milionárias se completa com a deputada e ex-governadora Yeda Crusius (PSDB). Somando contribuições legais e via caixa 2 nas eleições de 2006 e 2010, a tucana, ou "Balzac" na linguagem da propina odebrechtiana, teria recebido R$ 1,75 milhão. Segundo os delatores, o dinheiro foi pago em troca da concessão de créditos fiscais de ICMS à Braskem, empresa do grupo.
Outros quatro investigados no Supremo teriam recebido R$ 624 mil. Os deputados Maria do Rosário (PT), com R$ 150 mil, e Onyx Lorenzoni, com R$ 175 mil, são suspeitos de falsidade ideológica eleitoral por movimentar os recursos via caixa 2. Já os ex-diretores da Trensurb, Marco Arildo (o "Sucessor", com R$ 260,3 mil) e Humberto Kasper (o "Jornalista", com R$ 38,7 mil), respondem por lavagem de dinheiro e corrupção passiva por supostamente terem recebido R$ 299 mil.
Todavia, a relação de gaúchos delatados pela Odebrecht não se limita à jurisdição do Supremo. No total, os dirigentes da empreiteira citaram o nome de 46 políticos do Estado. Além dos sete que já são formalmente investigados, outros três tiveram as petições contra si devolvidas à Procuradoria-Geral da República porque o ministro Edson Fachin considerou fracos os indícios de que tenham cometido algum crime.
Nos declínios de competência, Fachin remeteu à instância inferiores os nomes de mais 19 pessoas. Caberá à Justiça Federal do Estado avaliar a abertura de inquéritos. Conforme os delatores, esse grupo teria recebido um valor total de R$ 2,69 milhões da empresa. Nestes casos, estão por exemplo a deputada Manuela D'Ávila (PC do B), com supostos caixa 1 e 2 de R$ 360 mil, o ex-prefeito de Canoas, Jairo Jorge (PDT), com doação legal de R$ 475 mil, e o ex-assessor especial da então presidente Dilma Rousseff, com propina de R$ 350 mil.
Há ainda uma tabela, entregue ao Ministério Público Federal pelo ex-presidente da Odebrecht Odebrecht Benedicto Júnior, na qual são listados os nomes de outros 17 gaúchos. Com datas, valores e codinomes, a tabela apresenta supostas contribuições ilícitas para estas pessoas na eleição de 2010 que totaliza R$ 1,24 milhão.
No STF
Sete gaúchos respondem a inquérito, sob suspeita de receberem R$ 9.948.700
Eliseu Padilha (PMDB) – R$ 5,49 milhões
Humberto Kasper – R$ 38,7 mil
Marco Maia (PT) – R$ 2,08 milhões
Marco Arildo – R$ 260,3 mil
Maria do Rosário (PT) – R$ 150 mil
Onyx Lorenzoni (DEM) – R$ 175 mil
Yeda Crusius (PSDB) – R$ 1,75 milhão
Em instâncias inferiores, podem ser investigados outros 19 gaúchos, que teriam recebido R$ 2.694.000.
Uma lista da Odebrecht com mais 17 nomes soma doações em caixa 2 no total de R$ 1.240.000.
Contrapontos
O que diz Eliseu Padilha (PMDB)
Afirmou que confia nas instituições brasileiras e tem certeza de que "com a abertura das investigações lhe será garantida a oportunidade para exercer amplamente seu direito de defesa".
Yeda Crusius (PSDB)
À Rádio Gaúcha, na quarta-feira, a parlamentar afirmou: "Para mim não passaram, e se disseram, terão de mostrar para quem passaram. Não recebi. O que recebi legal é o menor entre os candidatos (ao governo do Estado). Eles vão ter de dizer para quem deram. Para mim não deram".
O que diz Marco Maia (PT)
"Não há absolutamente relação minha de pedido de qualquer ilegalidade para ter qualquer benefício desta ou de qualquer outra empresa que tenha atuado no Rio Grande do Sul ou no país."
Maria do Rosário (PT)
"Todos os recursos doados foram registrados e aprovados pela Justiça Eleitoral"
Onyx Lorenzoni (DEM)
Afirmou que nunca esteve com ninguém da Odebrecht e que desconhece as pessoas que o acusam.
O que diz Manuela D'Ávila (PC do B)
"Sobre as notícias veiculadas pela imprensa, comunico que não fui informada pela justiça, mas tenho ao meu lado a tranquilidade de quem há 13 anos constrói sua vida pública com transparência e ética".
O que diz Jairo Jorge (PT)
À Rádio Gaúcha, o político disse: "Nós nunca tivemos nenhum processo de caixa 2. Todas as nossas prestações de conta foram aprovadas. Vejo com muita tranquilidade essa situação. Vou responder todas as questões, prestar esclarecimentos. Acredito na Justiça. Acho muito estranho eles relatarem o apoio financeiro para uma obra que nem saiu do papel".
Marco Arildo (Ex-diretor da Trensurb)
ZH ainda não conseguiu contato com o ex-diretor da Trensurb.
Humberto Kasper ( (Ex-diretor da Trensurb)
Disse que não conhece o assunto e não sabe do que se trata. Por isso, não tem como se pronunciar.
O que diz Anderson Dorneles (ex-assessor especial de Dilma)
ZH tentou contato com o ex-assessor de Dilma Rousseff, mas não obteve retorno.