Citado por dois executivos da Odebrecht como beneficiário de caixa 2 nas campanhas eleitorais de 2012 e 2014, o prefeito de Uruguaiana, Ronnie Mello (PP), nega as acusações. Na sua versão, os R$ 80 mil mencionados pelos diretores da empresa jamais chegaram as suas mãos, tampouco houve qualquer pedido de doação de sua parte.
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Após uma semana tumultuada em razão da divulgação do conteúdo dos depoimentos, o prefeito tem um desejo – encontrar-se com os delatores para exigir, segundo ele, a verdade.
Diretor da Odebrecht Ambiental, Guilherme Paschoal disse que se encontrou com você em um hotel próximo ao aeroporto de Porto Alegre, onde ficou acertado o pagamento de caixa 2 para a sua campanha a deputado federal. Você se recorda dessa reunião?
É por isso que eu estou brabo, mesmo, com relação a essa situação. Tu vês a todo o momento, se tu parar para analisar, eu nunca vi disso, ele lê praticamente o tempo todo. Ele foi orientado a falar aquilo. Quanto a essa questão, eu realmente quero me manifestar, tanto em juízo ou quando encontrar ele pessoalmente, nem que seja a última coisa que eu faça na minha vida. Eu vou atrás dele para saber as razões pelas quais ele falou isso.
Mas você conhece o Guilherme Paschoal?
Não.
Esse encontro, então, nunca aconteceu?
É isso que eu estou falando. Em relação a essa situação, não vou falar mais absolutamente nada. Já respondi, não
Segundo o delator, houve pagamento de R$ 50 mil para a sua campanha, em 2012. Esse repasse ocorreu?
Claro que não.
E anteriormente, em 2012?
Também não.
Então, se esses fatos não ocorreram, por que os delatores os citariam?
Eu sou a pessoa mais angustiada, a mais preocupada para saber a razão pelas quais eles afirmam isso. Se deram (dinheiro) para alguém, eu quero saber para quem, porque esse dinheiro não chegou na minha mão.
Mas qual seria a motivação dos executivos em fazer referência ao seu nome?
Eu não sou adepto de teoria de conspiração, mas, se tu pegares o meu perfil e o meu trabalho como vereador todos esses anos e nesse início de gestão, tu vais ver o trabalho de fiscalização que fizemos todo esse tempo. Se eu tivesse gola presa com esses caras, não tinha reestruturado a comissão de fiscalização dos trabalhos da Odebrecht. Nos últimos dias, tomamos ciência de um aditivo (no contrato com a Odebrecht Ambiental) feito pelo ex-gestor e que desconhecíamos. Imediatamente, nos manifestamos pela suspensão, para que não se votasse o aditivo e pudéssemos fazer as averiguações. Pode ter certeza que, nos próximos dias, de tudo que estamos observando, vamos nos manifestar contrários. Eu não tenho como afirmar que as razões são essas, mas é muito fácil eles chegarem lá e dizerem o que querem - não o que querem, mas o que foram instruídos a dizer. Qualquer pessoa se dá conta que ele (Guilherme Paschoal) lê o tempo todo, e é isso que me deixa mais brabo. Por mais que eu seja jovem, eu fui criado e educado de uma forma que a gente resolve as coisas, sabe, de frente um pro outro, e esse tipo de coisa não pode acontecer. Jogar tudo isso no ventilador, achando que todo mundo faz parte... Ah, não. Comigo isso não funciona. Eu já vou me adiantar. Qualquer coisa que precisarem de mim, conta bancária, telefone, está tudo à disposição. Não tenho absolutamente nada a esconder.
Você teme que essa situação paralise a cidade?
Na nossa cidade, nesses últimos anos, não diferente do país, mas temos algumas peculiaridades, as pessoas estavam muito frustradas e, literalmente, jogaram a toalha. Viemos fazendo um trabalho para readquirir a confiança, resgatar essa credibilidade, e acho que estamos conseguindo. Foi um baque, um banho de água fria em todo mundo. Ao mesmo tempo em que peço desculpas por esses transtornos, quero agradecer porque a comunidade tem sido extremamente compreensível. Nossos trabalhos não pararam. Em breve, vamos dar a resposta para tudo isso. A gente fica um pouco chateado, vivemos um momento em que colocam todo mundo no mesmo saco. Eu também não deixo de botar minha cara à tapa, até porque, se não a gente não deve, não precisa ficar com receio de alguma coisa. As pessoas têm nos dado o maior apoio, e isso nos dá força para seguir trabalhando.
Agora, esses senhores (os delatores), isso não vai ficar só na esfera judicial. Eu afirmo que, em algum momento, não sei nem onde eles residem, mas um dia eu vou acha-los. Não é para mim, é porque, quando pega para a minha família, o buraco é mais embaixo. Aí, eles vão aprender a não mentir. Se alguém pegou esse dinheiro, não me interessa quem foi, a questão é que eles afirmaram que eu combinei com de pegar em tal lugar... Isso aí, um dia, ele (Guilherme Paschoal), vai ter que me explicar pessoalmente. Quero saber quem o orientou a dizer isso. Aí, a gente resolve do jeito como a gente sempre foi criado, que é do meu jeito.
Que é como?
Conversando, conversando, conversando... Porque não é possível uma pessoa em sã consciência achar que vai falar tudo isso... As nossas campanhas sempre foram muito abertas e transparentes. Convenhamos, se sujar por esses valores, por favor. Se ver a minha forma de viver, as opções de vida que eu fiz, me sujar por isso... Realmente, as pessoas não me conhecem.