Além de aumentar a demanda nos programas de assistência social, a crise econômica também trouxe um problema para as entidades que dependem de recursos ou doações. Frei Emiliano Dantas, coordenador do Murialdo Santa Fé, instituição que presta atendimento a 350 crianças de seis a 15 anos na zona norte de Caxias do Sul, diz que iniciou o ano preocupado com o futuro da entidade. A diminuição das doações de pessoas físicas e dos recursos provenientes da captação de impostos para os fundos municipais podem, já nos próximos meses, comprometer as atividades, revela ele. Hoje, as despesas fixas do Murialdo Santa Fé, incluindo o pagamento de 23 funcionários, giram em torno de R$ 50 mil mensais.
– Sofremos uma redução grande nos valores repassados pelo Fundo de Assistência Social e pelo Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (FMDCA) para este ano. Do primeiro, deixaremos de receber R$ 45 mil que sempre nos ajudaram com alimentação e material para atender as crianças. Já do FMDCA, a redução será de quase R$ 36 mil em comparação com o que recebemos no ano passado (de R$ 218 mil para R$ 182 mil) – lamenta o frei.
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O coordenador da instituição garante ainda que, se tivesse mais verba, poderia pensar em atender mais crianças. Segundo ele, há uma fila de espera com 80 meninos e meninas de seis anos. Frei Emiliano diz que está ciente da crise econômica, mas cobra da prefeitura auxílio para tentar reverter a situação:
– Sei que não há verba, mas o mais preocupante é que o poder público não apresentou nenhuma alternativa para que as entidades possam continuar desenvolvendo a promoção social dos mais vulneráveis. Muitas vezes, realizamos ações que deveriam ser proporcionadas pela prefeitura, inclusive. Não quero fechar as portas, mas está difícil.
Prefeitura confirma redução, mas pede ajuda
O presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Comdica), Elói Gallon, confirma que os recursos repassados para as entidades (hoje são 31 apoiadas pelo Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (FMDCA)) foram reduzidos. No entanto, garante que o dinheiro que vem do caixa da prefeitura, previsto em orçamento, não foi alterado:
– O valor que repassaremos para as instituições, que varia de acordo com a meta de cada uma, é de R$ 2.844.354,10 neste ano, sendo que R$ 1 milhão vem da prefeitura. O restante vem da captação do imposto de renda de pessoas físicas e jurídicas. Foi esse valor que diminuiu, reflexo da crise econômica: as empresas lucraram menos e, consequentemente, deduziram menos. O percentual que vem do imposto já foi 20% maior, mas quanto a isso não temos o que fazer, a não ser incentivar as pessoas a destinarem o valor do seu imposto.
Para o ano que vem, o presidente do Comdica estuda ampliar para R$ 2 milhões o montante que vem da prefeitura para auxiliar as instituições, porém não garante que será possível em função da contenção de gastos do poder público.
A presidente da FAS, Rosana Santini Menegotto, diz que sabe da situação difícil de algumas entidades que prestam serviço de assistência social em Caxias, porém garante que a fundação ajuda como pode no momento:
– O ideal seria que essas instituições se mantivessem com recursos próprios, seja através de colaborações ou de uma mantenedora. Sei que muitas fazem isso e mesmo assim está complicado, mas estamos cortando, revendo gastos justamente para ajudar a todos.