Em depoimento prestado ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal da Justiça Federal no Rio de Janeiro, no âmbito da Operação Saqueador, os ex-executivos da Andrade Gutierrez Rogério Nora de Sá e Clóvis Renato Primo reafirmaram que a construtora pagou propina para participar das obras de reforma do Estádio do Maracanã, em manobra chamada de "contribuição de governo".
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A Operação Saqueador investiga esquema de desvio de verbas públicas e lavagem de dinheiro no valor de R$ 370 milhões. Os principais acusados são o dono da Construtora Delta, Fernando Cavendish, e o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Além deles, foram denunciadas 21 pessoas, entre executivos, diretores, tesoureira e conselheiros da empreiteira e proprietários e contadores de empresas fantasmas, criadas pelo contraventor e pelos empresários Adir Assad e Marcelo Abbud.
Os dois ex-executivos já haviam prestado declarações à Justiça como testemunhas no processo e firmaram acordo de colaboração. Nora de Sá informou que o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral recebia pagamentos mensais de R$ 300 mil em propinas para garantir contratos da Andrade Gutierrez nas obras do Estádio do Maracanã para a Copa do Mundo.
Nora de Sá e Primo não estão entre os denunciados nesse processo, mas foram indiciados nas investigações da Operação Lava-Jato e já haviam prestado declarações à Justiça, firmando acordo de colaboração.
O engenheiro civil Clóvis Renato Primo, que disse ter trabalhado na empresa por 35 anos e foi diretor-geral de obras no período final, de onde saiu em 2013, afirmou que Nora participou de reunião com o governo para discutir a reforma do Maracanã, que já estava designada para o consórcio entre a Delta e a Odebrecht, na proporção de 30% e 70%, respectivamente.
– Se a Andrade Gutierrez quisesse participar das obras, teria que procurar a Odebrecht para entrar na cota de 70% dela. Além disso teria que ter uma 'contribuição de governo' de 5%. Nós procuramos a Odebrecht e acertamos a entrada da Andrade Gutierrez nessas obras na parte da Odebrecht, com 30% dos 70%, ou seja, 21%. A Odebrecht ficou com 49% e a Delta com 30%.
De acordo com Primo, no primeiro ano das obras, ainda na fase de projeto, em 2011, foi feito um pagamento mensal da ordem de R$ 300 mil para "esse negócio". Primo confirmou também que os valores eram repassados por meio de empresas de Adir Assad, com sede em São Paulo, que ele declarou não conhecer pessoalmente, já que fica no Rio de Janeiro.
Também estava previsto para hoje o depoimento de Flávio David Barras, mas a oitiva foi remarcada para amanhã, às 11h, a pedido do advogado, que disse não ter encontrado nos autos o termo de colaboração firmado com a Justiça. Barras já foi condenado por Bretas na Operação Lava-Jato e, junto com o ex-presidente da empresa, Otávio Marques de Azevedo, teve um acordo de delação homologado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, que morreu em janeiro deste ano.
Para quinta-feira, estão marcados também os depoimentos de Rubmaier Ferreira de Carvalho, apontado como contador de empresas de fachada de Carlinhos Cachoeira, por videoconferência, às 10h.
Na parte da tarde, estão previstas as oitivas de testemunhas no processo: o ex-senador Delcídio do Amaral, Donizete Luiz da Fonseca e Denilson Pelegrino Pereira.
*Agência Brasil