Em uma fila que fazia duas voltas na quadra do Sine Municipal, no Centro de Porto Alegre, cerca de 2 mil pessoas madrugaram para disputar uma das 500 vagas de auxiliar de limpeza e outras 62 para funções como porteiro, ajudante de açougueiro e operador de caixa em um mutirão de emprego realizado nesta sexta-feira. E para muitos dos que aguardam por uma oportunidade, a chance de voltar ao mercado de trabalho vale mais do que o próprio salário.
Receber uma remuneração menor do que no emprego anterior deixou de ser um problema. E muitos trabalhadores admitem isso. É o caso da moradora da Vila Jardim Maria Iara Xavier, 55 anos. Formada em Biblioteconomia, ela está desempregada há um ano. Já trabalhou como cuidadora e operadora de telemarketing e agora está disposta a trabalhar como auxiliar de limpeza e ganhar menos.
– Não tem querer, o importante é conseguir a vaga. Eu aceito porque preciso pagar as contas que não param de chegar.
Essa nova realidade ficou evidente em uma pesquisa feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) para investigar o perfil dos desempregados brasileiros. O estudo identificou que sete em cada dez desempregados (68%) estão dispostos a ganhar menos do que recebiam no último emprego, principalmente os homens (74%) e os que pertencem às classes C, D e E (70%).
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A pesquisa, que ouviu brasileiros nas 27 capitais, aponta que as principais justificativas para aceitar ganha menos é de que o que importa atualmente é arrumar um emprego para pagar as despesas (29%) e que o importante é voltar ao mercado de trabalho (25%). É isso que Vanderlei Côrrea de Oliveira, 49 anos, desempregado desde abril de 2016, leva em conta. Ele tem curso de vigilante e ensino médio completo, já trabalhou de segurança e fiscal de loja e agora tem esperança de conseguir uma oportunidade como auxiliar de limpeza.
– Estou disposto a trabalhar por um salário mínimo – admite o morador de Eldorado do Sul.
Gabriel Rodrigues, 24 anos, veio de Santana do Livramento, na Fronteira do Estado, para buscar oportunidades de emprego na Capital. Trabalhou como vigilante, mas está há duas semanas desempregado. Ele tem ensino médio completo e experiência como operador de caixa e carga e descarga:
– Eu aceito qualquer coisa. Se for uma vaga de auxiliar de limpeza, eu aprendo a fazer. Estou apavorado, preciso me sustentar aqui. Preciso conseguir algo até o dia 5 que é quando vence o meu aluguel – afirma.
Esse cenário, segundo a secretária adjunta de Desenvolvimento Social, Denise Russo, é reflexo de um momento em que a oferta de recursos humanos é muito maior que os postos de trabalho e a necessidades das pessoas de trabalhar para sobreviver:
– A busca pelo posto de trabalho, às vezes, significa dar um passo para trás na sua trajetória profissional para tentar entrar dentro de uma organização.
Apenas pela manhã, mil pessoas foram atendidas e metade delas participaram de entrevistas em grupo para as vagas de auxiliar de limpeza oferecidas pela SR Serviços, que devem ter contratação imediata.