A auxiliar de coleta de sangue Maria Luísa Castanheiro Correa, 50 anos, ainda não conseguiu passar nenhuma noite no novo lar, no Bairro Floresta, em Porto Alegre. Desde o final de outubro de 2016, quando fez a mudança, ela e a mãe, Cecília Lourdes Castanheiro, 74 anos, dormem na casa de parentes, pois o apartamento ainda não teve a energia elétrica ligada.
Por volta das 19h, Maria sai do local para percorrer cerca de 30km de ônibus até a residência do irmão, no Bairro Belém Novo, na Zona Sul. Já Cecília pega um ônibus e um trem. Vai passar a noite na casa de um filho que vive em Sapucaia do Sul. No dia seguinte, elas fazem o caminho de volta para o apartamento, para ficar de plantão, das 8h às 18h, à espera de um técnico da Companhia Estadual de Energia Elétrica (Ceee).
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Maria reclama que tem tido gastos extras com alimentação e transporte por não ter a luz ligada. Para economizar um pouco o dinheiro do deslocamento, seu filho de 19 anos ficou na casa do tio, no Bairro Belém Novo, e o sobrinho de 26 anos, que também mora com ela, está na casa de amigos.
– Estamos virando ciganos. Cada dia em um lugar diferente. Não aguento mais estar na casa dos outros. Quero dormir na minha cama – desabafa Maria Luísa
Ela conta que fez o pedido de ligação da luz no dia 1º de novembro de 2016, quando regularizou uma dívida do antigo morador. Só no dia 6 de dezembro, após vários plantões na escada do prédio, recebeu a primeira visita técnica da Ceee:
– Me disseram que o técnico tinha vindo duas vezes aqui, mas não é verdade, pois eu sempre estive em casa. Até que, nesse dia, o meu irmão viu passar um carro da Ceee e saiu atrás dele.
Ceee admite atraso, mas Sindicato diz que problema é maior
A Ceee destaca que há cerca de 5 mil solicitações de ligação por mês em Porto Alegre e que, dos pedidos que ingressaram até o 21 de dezembro de 2016, como o de Maria, ainda há cerca de 300 à espera de atendimento.
Conforme a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o prazo máximo para ligação de rede elétrica em residências em áreas urbana é de dois dias.
O Sindicato dos Eletricitários do Rio Grande do Sul (Senergisul) diz que o atraso é maior: cerca de 3 mil clientes da Ceee na Região Metropolitana estariam nesta espera. O problema, segundo o sindicato, acontece porque um sistema de gerenciamento da empresa foi trocado às pressas, sem os testes necessários nem o treinamento do pessoal.
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Em relação ao pedido de Maria, a Ceee explicou que, em vistoria no dia 6 de dezembro, não foi possível fazer a ligação porque havia fios curtos no local. No dia 27 de dezembro, foi verificado que o quadro de luz deve ser trocado. Conforme a companhia, ela foi informada e os outros moradores do prédio serão notificados para trocarem o equipamento. Só assim, a luz dela poderá ser instalada. Não há prazo definido para que isso ocorra.
Outros casos
O problema de Maria também é vivenciado por Bárbara Parraga, 26 anos, e o marido, Vinícius Oliveira, 26 anos, que tiveram de adiar a mudança para o novo lar, no Bairro Sarandi. Sem luz, a instalação do piso e dos móveis não pode ser feita. Com isso, continuam pagando aluguel de outro imóvel.
– Todas as outras contas estão duplicadas – queixa-se Bárbara.Ela fez o pedido para ligação de luz há 20 dias e ainda não recebeu retorno da Ceee. Já Cezar Gonzaga, 28 anos, fez a mesma solicitação no Bairro Santo Antônio há três semanas.
Para os casos deles, a Ceee prometeu a regularização na semana que vem.
* Participou Josmar Leite, da RBS TV.