Como se fosse ontem, Miele Obando Alvares, 40 anos, lembra do momento exato em que viu a vida virar de cabeça para baixo. Em 25 de julho de 2008, após descobrir um câncer de pele raro, ela passou por uma cirurgia para retirar o nariz e parte da testa. A doença se foi, mas ficaram as sequelas e uma longa luta pela frente.
Desde então, Miele aguarda por uma cirurgia de reconstrução do rosto. Primeiro, são feitos implantes crânio-faciais e aguarda-se um período de seis meses. Depois, confecciona-se estrutura metálica sobre os implantes e prótese do nariz em silicone. A operação custa R$ 18.500, e Miele, que recebe um salário mínimo de auxílio-doença por mês, não tem condições de pagar pelo tratamento.
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Dificuldades
Um ano após a cirurgia de amputação do nariz, Miele usou uma prótese móvel, mas não se adaptou e precisou retirá-la. Em janeiro de 2015, passados quase sete anos desde o ocorrido e sem previsão de conseguir a operação, a moradora de Gravataí entrou na Justiça com processo para que o Estado proporcione a cirurgia por meio do Sistema Único de Saúde (Sus) ou pague o valor para a operação particular. Sem sucesso.
– Não tenho nariz, uso um curativo no lugar. Lacrimejo muito porque também perdi os cantos dos olhos. As pessoas me olham como se eu fosse um extraterrestre. Não gosto que sintam pena de mim, mas fico chateada porque elas se afastam, como se eu tivesse algo contagioso – queixa-se.
Por conta do câncer e da amputação, Miele parou de trabalhar. Mãe de três filhos, de 23 anos, 19 anos e quatro anos, ela conta do que sente mais falta: de trabalhar e de sair na rua sem os olhares de estranheza.
– Tenho depressão, engordei, descobri a diabetes. O que mais quero é voltar a trabalhar para poder dar uma vida melhor para minha mãe e para minha bebê, a Laila Micaeli – declara.
Para a mãe, a dona de casa Mitsy Siqueira Alvares, 60 anos, a tristeza foi ainda maior por não poder fazer nada para ajudar Miele.
– Ela tem muita fé, é muito forte. Foi difícil para mim ver ela ser negligenciada pelo governo. Só quero que minha filha tenha a vida dela de volta – diz Mitsy.
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Histórico
A descoberta do câncer demorou a acontecer. Há nove anos, Miele morava em Nova Hartz e trabalhava em uma fábrica de calçados quando vieram os primeiros sintomas: dores no nariz, até mesmo ao encostar. O primeiro diagnóstico foi de sinusite. Seis meses de tratamento, e nada. O segundo diagnóstico foi de alergia, e veio mais um tratamento inútil.
Depois de um tempo, Miele passou a usar morfina diariamente para suportar a dor. Foi só nesse estágio que descobriram o câncer, já avançado.
– Foi aí que o médico pediu a biópsia, mas não tinha mais jeito – lamenta.
Filha quer presente
Neste Natal, a pequena Laila Micaeli não pediu brinquedos de presente. A menina quis que a avó escrevesse uma cartinha pedindo ajuda para a mamãe.
"Papai Noel, me chamo Laila Micaeli e tenho quatro anos, eu gostaria muito que o senhor ajudasse na campanha de ajudar minha mãe para ganhar um nariz novo".
DOAÇÕES
- Quem quiser contribuir para ajudar a levantar os R$ 18.500 necessários para que Miele consiga fazer a cirurgia de reconstrução facial pode fazer doações em nome de Mitsy Siqueira Alvares.
- Banco: Caixa Econômica Federal
- Agência: 3451
- Operação: 013
- Conta poupança: 00010230-2