Luis Paulo Mota Brentano, ex-policial militar acusado de matar o surfista Ricardo dos Santos, o Ricardinho, entrou no Salão do Júri do Fórum de Palhoça às 9h40min. Com um terno cinza, gravata escura e óculos de grau, estava acompanhado de dois policiais, que se sentaram ao seu lado. No início do julgamento, a juíza Carolina Ranzolin Nerbass Fretta, da 1ª Vara Criminal de Palhoça, atendeu a um pedido da defesa e pediu à imprensa que não fossem feitas imagens do réu durante o julgamento.
Mota ficou poucos minutos dentro do plenário. Isso porque a primeira testemunha de acusação, um morador da Pinheira, comunidade vizinha à Guarda do Embaú, onde ocorreu o crime, pediu que o ex-policial não estivesse no ambiente durante o depoimento dele. O rapaz disse que foi ao local onde Ricardinho estava após ter sido baleado, na beira da praia. Ele relatou que não viu um facão nas mãos de Nicolau dos Santos, avô do surfista, como alega a defesa.
A segunda testemunha também não falou sob a presença do réu. Morador da Guarda, disse que foi provocado momentos antes do crime pelo ex-policial e que percebeu alteração dele, como se tivesse consumido alguma substância química. Além do homicídio qualificado, Mota responde pelo crime de embriaguez ao volante.
O corpo de jurados é formado por sete pessoas. São quatro homens e três mulheres. Antes do sorteio, duas mulheres pediram dispensa por questões médicas e outras duas disseram que se manifestaram sobre o crime nas redes sociais. A juíza deu cinco minutos para que os jurados sorteados pudessem comunicar a família sobre a permanência na sessão. A previsão é que o julgamento termine apenas na sexta-feira à tarde.
A plateia do salão está quase lotada. Para entrar no espaço o público precisa retirar uma senha e passar por detectores de metal. Além de familiares de Ricardinho, estão no local alguns homens com camisetas com a frase: “Daqueles que clamam por justiça, esperamos somente a verdade”, um indicativo de apoio ao ex-policial.
Relembre o caso
O crime ocorreu no dia 19 de janeiro de 2015. Segundo a denúncia do Ministério Público (MP), o então policial militar Luis Paulo Mota Brentano estava na Guarda do Embaú, em Palhoça, passando férias com o irmão de 17 anos. No dia anterior, afirma o MP, os dois teriam ingerido bebidas alcoólicas de maneira excessiva até a manhã seguinte.
Por volta de 8h, Mota teria dirigido o próprio carro embriagado até a entrada de uma residência, exatamente onde seria feita por Ricardinho uma obra de encanamento. Depois disso, relata a denúncia, o surfista e o avô, Nicolau dos Santos, teriam pedido ao policial que retirasse o veículo do local, mas Mota se negou e chegou a afrontá-los.
Do interior do veículo, explica a denúncia feita pelo Ministério Público de Santa Catarina, o policial teria atirado três vezes contra Ricardinho, sendo que duas balas atingiram o surfista. Leandro Nunes, advogado de defesa do acusado, afirma que Mota reagiu em legítima defesa, "diante de ataque de Ricardo dos Santos".