No domingo, vivi uma experiência inédita. Sob muita chuva, raios e vento, fui ao Parque Esportivo da PUCRS, assistir à final da NLFAN – Nova Liga de Futebol Americano No Pads de Porto Alegre. Nesta modalidade, os jogadores não usam equipamentos como capacete, protetores de ombro e de dorso.
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Acompanhado da minha mulher e de um sobrinho de 11 anos estava desconfiado, mas o dever de pai falou mais alto. Henrique, nosso filho de 21 anos, pratica o esporte há algum tempo pelo Porto Alegre Crows. Ele reclamava de nossa ausência nos jogos. Apesar das mais de três horas de duração e da complexidade das regras, não me arrependi do inusitado programa dominical.
Já no estádio fui surpreendido pela presença de cerca de 2 mil pessoas. Durante toda a tarde, convivi com famílias, namorados e grupos de amigos com chimarrão, lanches, pipoca, chocolate, refri e outras guloseimas. A convivência com a torcida rival foi pacífica. Não houve incidentes.
No campo, minha falta de cultura tática não impediu observar exemplos que fariam muito bem ao soccer, o nosso futebol de cada dia, apesar da aparente brutalidade da modalidade. Quando um jogador lesionado é atendido, todos os jogadores – incluindo os adversários – permanecem com um dos joelhos apoiado no chão, em sinal de solidariedade.
Os choques são constantes, mas lances de deslealdade ou de violência gratuita são raros. Há poucos casos de simulação de lesões, prática irritante no futebol brasileiro que denigre a imagens dos nossos atletas mundo afora.
No final, apesar da goleada de 26 a 0 aplicada pelo campeão Porto Alegre Warriors, a confraternização foi emocionante. Os atletas se abraçaram e agradeceram o apoio das torcidas, gesto de civilidade distante dos jogos promovidos pela CBF. O sucesso do futebol americano entre os jovens é uma realidade. A gurizada do Gaúcha Tochdown, programa da Rádio Gaúcha, transmitiu ao vivo.
Em casa, mesmo abatido pela derrota, Henrique estava feliz pela repercussão da final e confraternizou conosco. Se disse eufórico por ter apostado na modalidade quando o futebol americano engatinhava na Capital. Ele ajudou a fundar o Porto Alegre Crows, rabiscando à caneta o estatuto do clube e calando os onipresentes pessimistas de plantão.