O esquema montado para furar a fila do SUS no Estado pode estar ocorrendo em várias cidades gaúchas. É o que afirma, em gravação, um intermediário do esquema que se diz "representante" do deputado federal Giovani Cherini (PR) na região de São Lourenço do Sul. Nesta segunda-feira, o parlamentar divulgou nota em que anuncia a exoneração do assessor Martinho de Brum, flagrado no esquema.
Leia mais
Reportagem mostra fraude na fila do SUS em troca de votos
Quadrilha explode banco, rouba caixas e faz reféns
Estado não garante pagamento do 13º em dia aos servidores
Reportagem exibida pela RBS TV no domingo, no Fantástico, revelou áudios em que o intermediário Sidenei Gheling aparece detalhando o esquema de fraude. É ele quem encaminhava ao assessor Martinho a lista de pacientes para realizar os exames, sem passar pela fila do SUS. Eles eram "recebidos" em um posto de combustíveis de São Lourenço do Sul pelo frentista Caco do Posto, que cobrava R$ 50 pela vaga. A fraude estaria ocorrendo em outros municípios.
– Tem mais outras pessoas para pegar. Não é só nós de São Lourenço, são de todos os municípios que chegam ali – afirmou Gheling a uma mulher que se fez passar por paciente para flagrar o esquema.
Gheling aparece em foto ao lado de Caco do Posto, no escritório político de Cherini, em Porto Alegre. Na gravação, Gheling explica que o destinatário dos R$ 50 que os pacientes pagam ao frentista seria um médico, responsável por facilitar a fraude. A clínica Radicom diz que descarta a cobrança de valores por seus profissionais. E que segue apurando o caso internamente.
Já o assessor flagrado transportando os pacientes até a clínica passou o dia com o telefone desligado. Martinho de Brum já havia sido flagrado em 2007, em esquema semelhante, quando era lotado na Casa Civil do governo do Estado. Na época, a reportagem da RBS TV constatou que ele não aparecia para dar expediente no Palácio Piratini e que era visto com frequência no gabinete do irmão, Paulo Brum, que era deputado estadual. Sem saber que estava sendo gravada, uma paciente vinda do Interior disse à reportagem que havia conseguido com Martinho um exame em "30 dias".
CHERINI NEGA LIGAÇÃO COM INTERMEDIÁRIOS
Demitido pelo governo após a denúncia, Martinho de Brum acabou contratado por Cherini, com salário de R$ 3,7 mil, mais auxílios. Em nota, o deputado disse que exonerou o assessor após tomar conhecimento da denúncia. Cherini também nega ligações com os intermediários citados na reportagem. E que está à disposição para auxiliar nas investigações.
Procurados pela reportagem, Sidenei não quis se manifestar. Já Martinho não foi localizado. O Ministério da Saúde anunciou que vai apurar o escândalo por meio do setor de auditoria do sistema de saúde, o Denasus. Em nota, afirmou que está em implantação um sistema informatizado nos postos de saúde de todo o país, o que deve dificultar esse tipo de fraude.
Em nota, o Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems-RS) disse repudiar "a prática apresentada na reportagem por considerar que a regulação correta da oferta de serviços disponíveis no SUS, seguindo critérios objetivos e universais, é o meio mais justo e adequado para se organizar e hierarquizar o acesso aos serviços públicos de saúde". Acrescenta que "é lamentável que as gestões de saúde sofram constantemente com as mais variadas tentativas de burla em sua organização e regulação dos serviços".