Há cinco meses no comando do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), Marcos Pereira tem entre seus principais objetivos reduzir custos e combater o desperdício no setor produtivo. Nesta sexta-feira, na Capital, os gaúchos conhecerão a aposta do ministro para estimular as empresas de pequeno e médio porte, gerando mais postos de trabalho.
Às 11h, na Fiergs, Pereira apresenta o programa Brasil Mais Produtivo, que vai beneficiar 330 empresas no Estado dos setores moveleiro, confecções e calçados, alimentos e bebidas e metalmecânico, divididos na Serra, na Região Metropolitana, no Vale do Sinos, no Sul e no Noroeste. O Rio Grande do Sul é o 10º Estado a receber a iniciativa federal.
Por meio de consultorias e de capacitação técnica nas indústrias, Pereira acredita que pode aumentar em, pelo menos, 20% a produtividade das empresas beneficiadas:
– Muitas vezes, o empresário não tem acesso a uma consultoria com o nível de detalhamento que o Brasil Mais Produtivo oferece. Uma das grandes vantagens deste programa é oferecer atendimento individualizado.
Confira a entrevista a ZH.
De que maneira o Brasil Mais Produtivo pode melhorar a atividade das empresas?
Profissionalizando a produção. Os empresários recebem consultoria especializada. Por cerca de três meses, os processos produtivos são revisitados e os resultados impressionam. Temos casos, em outros Estados, de 80% de ganho na produtividade. O método é simples, barato e eficiente porque tem como foco a redução de desperdícios. O programa gera renda de imediato, mas, para nós, o resultado é muito maior: a manutenção e a geração de emprego.
O programa tem investimento nacional de R$ 50 milhões, diluído entre 3 mil empresas. Como terá real impacto na produtividade?
É um programa de baixo custo e alto impacto. A consultoria individual destinada às empresas, realizada por meio de parcerias, aplica a ferramenta da manufatura enxuta. Cada intervenção tem custo aproximado de R$ 18 mil, sendo R$ 15 mil financiados pelo programa e R$ 3 mil de contrapartida de cada empresa, valor que pode ser financiado pelo BNDES.
Por que a escolha de priorizar, no Rio Grande do Suç, investimentos regionalizados?
Por razões técnicas. A seleção foi feita a partir da análise das empresas existentes e aglomerações por cadeia produtiva, levando em conta o potencial de exportação, relevância econômica, alta empregabilidade, presença de pequenas e médias empresas, além da otimização das políticas públicas existentes.
No Brasil, setores criticam a política de subsídio, mas todos pedem auxílio ao governo. Como lidar com esse paradoxo?
Oferecendo condições aos empresários para voltarem a crescer, o que não se limita a benefícios econômicos. Há ações que cabem ao poder público, como a desburocratização de processos e a revisão de normas e obrigações. Tenho dito aos representantes dos diversos setores da economia que o MDIC é a casa do setor produtivo. Como tal, concentra todas as demandas da indústria e do comércio. Na medida do possível, tenho levado os pedidos ao governo.
O ministério trabalha para desburocratizar as importações de equipamentos?Está em curso a implantação do Portal Único de Comércio Exterior, cuja principal função é facilitar as operações de exportação e importação. O portal agrega os 22 órgãos do governo federal, que exercem algum tipo de anuência no comércio exterior. O operador poderá acessar os benefícios a partir de dezembro, quando as exportações realizadas por modal aéreo estarão disponíveis para uso. A partir do ano que vem, entrarão em operação as importações. O portal, quando totalmente implementado, em 2017, vai garantir 40% de redução dos prazos médios tanto das exportações, que passam de 13 dias para oito dias, quanto das importações, que passam de 17 dias para 10 dias.
O senhor alertou o presidente Michel Temer sobre a urgência das reformas, destacando que, se perceber que não vão sair do papel, deixará o governo. Qual o limite da sua paciência?
O presidente demonstrou compromisso de que este governo adotará medidas necessárias para colocar o país nos trilhos. Por isso, o momento é de se falar em trabalho conjunto para fazer o Brasil voltar a crescer, gerar emprego e renda, que são os melhores programas sociais que podemos promover.
O setor produtivo reclama da falta de financiamento de longo prazo. Há solução?
O MDIC trabalha na elaboração de um estudo a ser enviado ao Banco do Brasil e ao BNDES, apontando a necessidade de novas linhas de crédito ao exportador. Entendemos que o acesso a boas linhas de financiamento, não somente as de longo prazo, é fundamental para aumentar a competitividade das exportações nacionais. Importante ressaltar, ainda, que as conversas não foram iniciadas.
O senhor tem expectativa de redução da taxa de juros no país? Pode ajudar a indústria?
Olha, este é um tema exclusivo do Banco Central. Podemos trabalhar com as informações divulgadas no último Boletim Focus, no qual o mercado prevê um corte de 0,25% na taxa básica de juros na próxima reunião do Copom, em outubro. A Selic iria para 14%. A expectativa do mercado é que, até o final do ano, a taxa chegue a 13,75%. Para o setor produtivo, grande demandante de financiamento, se confirmada essa tendência, será uma boa notícia.
O atual valor do câmbio é o ideal para as exportações?
O câmbio é, certamente, um fator importante para a competitividade das exportações brasileiras. O atual patamar, na casa dos R$ 3,25, ainda é muito bom para a rentabilidade dos nossos exportadores.
Como ampliar as relações do país com parceiros internacionais? O Mercosul facilita ou dificulta acordos com grandes mercados?
O Mercosul é um importante e grande mercado para as exportações brasileiras, principalmente as provenientes da região Sul, por conta da proximidade. Também é importante pensarmos no tamanho desse mercado. Em conjunto, somos mais de 270 milhões de pessoas. Esse porte nos traz maior relevância, quando sentados à mesa de negociação com outros grandes mercados, como é o caso da União Europeia. Além disso, é muito importante ressaltar que as negociações em bloco são somente aquelas que envolvem tarifas.