As notícias de que entregadores de lanches foram vítimas de assaltos em Santa Maria tem sido frequentes neste 2016. O caso mais recente foi registrado na terça-feira da semana passada, dia 9. Um entregador de pizzas foi atacado por três criminosos no bairro Tancredo Neves, na região oeste. Eles levaram duas pizzas, o celular da vítima e R$ 50.
De janeiro para cá, o Centro Regional de Operações e Inteligência Policial (Croip) da Brigada Militar de Santa Maria já registrou 22 roubos a entregadores. Em dois casos os suspeitos foram identificados pela própria BM, que deteve sete adolescentes e três maiores de idade. Os meses com maior incidência foram junho e julho, com cinco ocorrências cada, o que dá uma média de mais de um caso por semana. Em 18 dias de agosto, foram três.
O crime chama a atenção das autoridades da segurança pública tanto pela maneira como é praticado - por emboscada e geralmente com uso de violência -, como também pelo baixo custo-benefício. Ou seja, os criminosos correm um risco grande para obter um lucro pequeno. Em caso de responsabilização pelo crime de roubo, o autor pode pegar de quatro até 10 anos de prisão. Se for usada arma de fogo ou praticado por duas ou mais pessoas, a pena por ser aumentada em mais cinco anos. Trocando em miúdos: o assaltante vai ficar alguns anos na cadeia por um lucro muito pequeno.
– Em alguns casos que já ocorreram anteriormente, visualizamos que o objetivo maior era fazer um lanche de graça. Só que é um fato grave, com emprego de violência. E se entra em um crime com uma pena significativa – contextualiza o delegado regional da Polícia Civil, Sandro Meinerz.
O delegado acrescenta que é um crime difícil de ser investigado, já que normalmente ocorrem em locais escuros, onde não há câmeras de segurança. O relato da vítima é praticamente a única prova mais consistente para a investigação.
– Para a polícia é complicado de resolver, porque depende muito do reconhecimento formalizado pela vítima. Se a vítima não fizer esse reconhecimento, a dificuldade é grande para identificar esse suspeito – complementa.
A maioria das empresas e os próprios entregadores já tomam algumas precauções para evitar o crime (veja ao lado). Mas tanto Meinerz quanto o comandante do 1º Regimento de Polícia Montada, tenente-coronel Erivelto Hernandez, responsável pelo policiamento em Santa Maria, recomendam algumas medidas como ter um identificador de chamada e também de andar com menos dinheiro em espécie.
– É preciso ter essa perspicácia, porque, infelizmente, a empresa e o entregador estão sujeitos a isso. Na grande maioria, são pessoas do bem que encomendam. O que orientamos, principalmente, é que os entregadores não circulem com muito dinheiro. O criminoso, se conseguir R$ 500 em uma situação assim, vai se sentir estimulado e vai fazer de novo – afirma Hernandez.
O MEDO ACOMPANHA CADA ENTREGA
Os assaltos têm amedrontado tanto os entregadores que a violência já levou muito deles a pensarem em medidas extremas, como largar a profissão e até mesmo trabalhar armado. Dois entregadores, de 29 e 26 anos, que trabalham na mesma empresa (eles não terão os nomes divulgados por questão de segurança), já foram vítimas de assaltantes neste ano.
O mais velho foi atacado por um grupo de quatro homens no bairro Chácara das Flores, na região norte. Além de ter o celular, os lanches e a carteira com documentos roubados, ele foi agredido com golpes de facão. O mais novo, assaltado em julho, foi vítima de um suposto cliente no bairro Tomazetti, na região sul. Na oportunidade, além da comida e da carteira, ele teve levados o celular e até o par de tênis que calçava. Ele ainda estava pagando pelos pertences e calcula o que prejuízo ultrapassa R$ 1 mil.
– Depois que fui assaltado, a primeira coisa que pensei foi em trabalhar armado. Eu estou pagando o celular e o tênis ainda, mesmo sem tê-los. É brabo tu ver os caras levando coisas que tu nem pagou ainda – lamenta o mais jovem, que trabalha há oito anos como motoboy e, há três, é entregador.
– Levaram o meu celular, o dinheiro, o lanche e a minha moral. Me encheram de estouros de facão nas costas. É uma sensação de enorme impotência. Por pouco, eles não levaram a minha moto. A gente até fica com raiva, mas não pode fazer nada. Tem um com uma faca na tua costela, outro apontando uma arma e, por qualquer coisa, te matam. Eles não têm nada a perder. Se eles conseguirem um lanche já está bom. O que eles conseguirem é lucro – desabafa o entregador mais velho, que trabalha há um ano nesse mesmo local, mas já foi entregador de água e de gás.
Segundo eles, além do bairro Tomazetti, o Urlândia, ambos na região sul, também tem tido assaltos frequentes. Outros locais como os bairros Chácara das Flores, na zona norte, e Diácono João Luiz Pozzobon, na centro-leste, têm sido evitados pelos entregadores. Mas a experiência ajuda também a levar a desconfiança de que a encomenda, na verdade, possa ser uma emboscada. Alguns números já conhecidos e evitar dar muitas voltas em um local que o endereço não bate ajudam a evitar um possível assalto.
– A gente nota quando é muito suspeito. Normalmente, eles dão o número da casa errado, cai em um terreno baldio, ou endereço é incompleto. Esses dias pediram uma água mineral no Zilda Arns. Aí, vão pagar R$ 15 de tele-entrega por uma água mineral? É a tenteada – relata o entregador mais velho.