Em 2014, após a segunda onda de atentados nas ruas de Santa Catarina, uma bandeira branca foi fincada por criminosos em morros controlados pelo tráfico de drogas de Florianópolis. Não foi apenas um sinal de paz como aconteceu entre 2009 e 2010 durante onda de assassinatos entre gangues rivais, mas um gesto que objetivou sinalizar o comando da territorialidade.
A revelação saiu durante os interrogatórios dos acusados dos atentados de 2014 nesta terça-feira no Fórum da Capital. A informação consta na apuração policial e do Ministério Público como um salve (ordem) dado na época por líderes do Primeiro Grupo Catarinense (PGC) que estão na prisão federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Embora pareça um sinônimo de paz, o gesto pode ajudar a explicar a territorialidade que envolve o rentável mundo do tráfico, a disputa por espaço entre bandos rivais e a série de mortes que vem acontecendo no Estado nos últimos anos. O conflito mais evidente, segundo policiais, está em Joinville, onde bandidos do Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, buscam dominar os pontos do PGC mediante mortes e ameaças.
Com a bandeira branca em Florianópolis, a facção passou a garantir o mando e o desmando dos lugares e de quaisquer atos na área mesmo com seus líderes presos. Policiais experientes ouvidos pela reportagem afirmam que isso aconteceu nos principais morros do Maciço, área Central de Florianópolis.
Na audiência desta terça, a grande maioria dos presos interrogados negou saber de qualquer atitude referente - no processo eles também são acusados de associação para o tráfico de drogas, além de integrar a facção e ordenar os ataques.
Interrogatórios terminam com 14 réus ouvidos
Por volta das 17h30min, a audiência se encerrou com 14 réus ouvidos. Foram três pela manhã e 11 à tarde. Em razão da agilidade, a Justiça não fará nova sessão nesta quarta-feira e continuará apenas na semana que vem com mais interrogatórios. Além dos presos presenciais, faltarão ser ouvidos por videoconferência os detentos que estão em presídios federais.
O MP e a defesa terão agora três dias para diligências. Depois, o MP começa a preparar as alegações finais individualizando a conduta de cada um dos acusados.
Sentença até o fim do ano
O juiz Rafael Bruning manteve a expectativa de proferir a sentença até o final do ano. Nesta terça, todos os acusados negaram os crimes de 2014 no Estado, cuja ordem a polícia afirma que partiu de líderes que estavam em Mossoró como retaliação a mortes de "irmãos" do crime em confrontos policiais que vinham acontecendo. A maioria deles também foi condenada pelos atentados de 2012 e 2013, cujo processo tramitou em Blumenau.
Revoltados ou calados em depoimento
O preso Robson Vieira se disse revoltado com a acusação e com os envolvimentos criminosos imputados a ele pela polícia e Ministério Público. Ao ouvir isso e com base no seu histórico de crimes, o juiz comentou que então ele deveria ter mudado de vida também.
Robson então comentou que deseja mudar, mas que lhe faltou até agora uma oportunidade. Valmir Gomes preferiu ficar em silêncio ao ser indagado sobre os crimes.
O detento Maicon Januário disse que não consegue entender o motivo de figurar entre supostos integrantes do segundo ministério da facção, conforme apurou a investigação.
– Estou há 11 anos preso, prestes a sair para o semiaberto, jamais iria cometer qualquer coisa – garantiu.
Geovani dos Santos, o "Geovani Bomba", também permaneceu em silêncio na maioria das perguntas do juiz e da promotoria. Outros que também ficaram calados foram Gian Carlos Karzmirski, o Dexter, e Leoncio Joaquim Ramos.
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