As tropas da Força Nacional de Segurança desembarcaram duas vezes em Santa Catarina: em fevereiro de 2013 e em outubro de 2014. Nas duas ocasiões, atentados nas ruas contra ônibus e prédios policiais se multiplicavam num descontrole impressionante, espalhando terror e medo à população.
Os primeiros dias de atuação coincidiram com uma trégua significativa dos ataques. Mesmo assim, a avaliação interna quase que unânime entre especialistas, autoridades da segurança e promotores especializados no crime organizado é de que o reforço teve apenas efeito midiático, psicológico e político, incapaz de sufocar o avanço da criminalidade.
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Deixados de lado os atos simbólicos oficiais e até egos na responsabilidade de controle da situação, a vinda da Força Nacional simbolizou ao Estado uma importância maior no trato com as suas mazelas na segurança pública. E, principalmente, no sistema prisional. Afinal, eram das cadeias catarinenses que vinham os chamados salves-gerais, ou seja, as ordens do crime organizado para comparsas nas ruas praticarem crimes e desafiarem sem piedade policiais e agentes penitenciários.
Nesse sentido, a ajuda federal serviu para dar agilidade ao Estado em medidas contra o comando da organização criminosa Primeiro Grupo Catarinense (PGC), uma quadrilha chefiada de dentro das prisões catarinenses que ordenava aos bandidos soltos as ondas de delitos.
A Força Nacional atuou em missões de operacionalizar as transferências dos líderes da organização criminosa para os presídios federais de segurança máxima em outros Estados – talvez essa sim a principal ação que estancou a violência. Houve também a presença pessoal do então ministro da Justiça José Eduardo Cardozo nas reuniões com a cúpula estadual em busca da velocidade aos processos.
O aparato que envolveu aviões, centenas de homens e viaturas do governo federal, principalmente na Grande Florianópolis, auxiliou num primeiro momento nas guardas das prisões em que estavam os chefes do crime organizado e na remoção deles aos aeroportos. Houve impacto imediato. Envolvidas nas ações de inteligência e de investigação, as autoridades policiais e prisionais estaduais entendem que o trabalho principal, de identificar, mapear e conseguir as prisões desses líderes, já havia sido feito pelas forças-tarefas locais.
– Basicamente aqui, a Força Nacional fez a guarda dos presídios e ajudou na transferência dos presos, causando efeito psicológico e político à população. Apenas isso – analisa um integrante do alto escalão da segurança pública catarinense.
Portanto, a chegada da Força Nacional auxiliou o ato que trouxe de volta a tão desejada calmaria em solo catarinense: o isolamento dos cabeças do PGC que comandavam uma quadrilha dedicada ao tráfico de drogas e assaltos.
Enfraquecidos e sem comandos, os comparsas das ruas acabaram desistindo do terror, que foi diminuindo nos dias seguintes.
As tropas permaneceram no Estado meses depois. Patrulhamento nas ruas e esquinas, operações em áreas críticas ou barreiras urbanas não foram ações vistas pela Força Nacional nas grandes cidades de Santa Catarina. O trabalho "pós-transferência" dos líderes do PGC consistiu basicamente em ações conjuntas e noturnas nas divisas do Estado para apreender drogas ou prender suspeitos em uma estratégia de sufocar a parte financeira do crime, conforme determinação do ministro da Justiça.
Esvaziada de forma automática, a presença das tropas federais até hoje foi considerada mais de abafa e resposta à população a que um golpe contra o crime. Mas não há dúvidas que a simples notícia da sua atuação acelerou procedimentos estaduais necessários.
– Toda ajuda em segurança é bem-vinda e sem dúvida o Estado passou a se agilizar no olhar ao crime organizado, dando a resposta necessária também nas esferas judiciais – comenta um líder de categoria do meio policial.
Por outro lado, são dados como avanços primordiais a permanência até hoje de alguns dos líderes do crime organizado em presídios federais, o constante monitoramento integrado das facções em prevenção a novos ataques e a mudança de comportamento de agentes nas cadeias diante de um passado de denúncias de tortura aos detentos.