Quem tem conta em banco já pode ter recebido uma proposta que parece tentadora: colocar no bolso imediatamente uma quantia em dinheiro que só entraria no final do ano. Em tempos de crise, com as contas batendo à porta, essa possibilidade promete fazer muita gente parar e pensar. São as antecipações de 13° salário e restituição de Imposto de Renda. Mas não se trata de camaradagem.
– O que as pessoas devem saber bem é que se trata de uma compra de dinheiro. O banco oferece a quantia e, depois, a pega de volta com juros e taxas – alerta o educador financeiro Jó Adriano da Cruz.
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Para a instituição, é uma transação mais segura. As antecipações são oferecidas aos clientes, e a garantia de pagamento é o fato de que o 13º ou a restituição são depositados na conta. Também por isso, as taxas e os juros acabam sendo relativamente mais baixos. Mesmo assim, está longe de ser aconselhável de modo geral.
– Só vejo uma situação que pode fazer valer a pena essa operação: ajudar a quitar uma dívida que tenha juros mais altos, como a do cartão de crédito – diz Jó Adriano.
Reflita antes
O oferecimento da antecipação ocorre por e-mail, por telefone ou na própria agência bancária. Sem refletir bem sobre o uso que vai dar ao dinheiro, o cliente pode aceitar a oferta. O educador financeiro Adriano Severo destaca que, no caso da restituição, pode haver problemas
no cadastro e a necessidade de retificações. Nesses casos, o valor a receber da Receita pode diminuir.
– O banco vai pegar de volta o valor que emprestou. E se o valor da restituição baixar ou não vir, a instituição vai tirar do que houver conta, talvez até do limite – alerta.
Boa relação com o banco é fundamental
Para garantir juros mais baixos e até descontos em taxas bancárias no caso de pedir antecipações, existe um pulo do gato: ter boa relação com o banco. Significa ser um cliente com vida financeira saudável.
– O custo final (do adiantamento), somando juros e eventuais taxas, vai depender do perfil do cliente – confirma o superintendente da Unidade Financeira do Banrisul, Jairo Chagas.
Para economista, é melhor esperar
A economista Ione Amorim, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, diz que a publicidade dos bancos aos empréstimos e antecipações chega a ser irresponsável. Ela concorda que, para pagar uma dívida como a do cartão, que chega a 471,3% ao ano, pode valer a pena. Mesmo assim, questiona:
– Por que aceitar pagar juros e taxas sobre um dinheiro que já é seu? As pessoas não podem se encantar com isso. Ainda é melhor esperar.
Um contra, outro a favor
Quem quiser espantar a artista visual Rosana dos Santos Nunes, 50 anos, pode usar a tática de oferecer a antecipação do 13° ou da restituição do IR. Ela garante que, dessas operações, só quer distância.
– Tenho pavor de pagar juros e taxas! Nunca me pegaram com isso. Já me ofereceram, mandaram e-mail. Mas não aceito – garante ela, que é moradora de Pelotas.
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Rosana desconfia de tudo que é oferecido como uma grande vantagem. Já absorveu o hábito de, a cada oferta de serviço ou de crédito, perguntar quase sem deixar o interlocutor terminar: quais são a anuidade e o juro?
Segundo ela, é assim que mantém uma vida financeira controlada, guardando dinheiro e ficando com todo o 13º no final do ano, assim como uma eventual restituição.
– Eu gosto de ir juntando, sabe?
O bancário Paulo Armentano, 58 anos, já perdeu a conta de quantas vezes optou por receber antecipadamente o 13º salário. Nunca se arrependeu e não descarta repetir.
– Eu estava passando por emergências financeiras, usando R$ 2 mil ou R$ 3 mil do limite. Usei e não me arrependi – diz.
Claro que, pondera Paulo, o ideal é não precisar. Ele se apressa em dizer que jamais pregaria o desregramento financeiro para ninguém. Mas afirma que não vê a antecipação como um monstro de sete cabeças. Ele diz saber o momento certo de usar.
– Qual é o momento certo? É o momento em que se está precisando! Você vai resolver um problema que tem. Então, essa é a hora de usar – aconselha ele, que afirma não se incomodar com as taxas de juros.