Os catarinenses citados na delação premiada de Nestor Cerveró, que teve a íntegra divulgada oficialmente nesta sexta-feira pelo Supremo Tribunal Federal (STF), rebateram as declarações do ex-diretor da Petrobras e negaram qualquer prática citada por ele nos depoimentos à força-tarefa da Operação Lava-Jato.
Cerveró deve devolver R$ 18 milhões e deixará a prisão no dia 24
Em delação, Nestor Cerveró afirma que Dilma mentiu sobre compra da refinaria de Pasadena
Na delação, Cerveró relata que a ex-ministra catarinense Ideli Salvatti (PT) teria interferido para uma renegociação de uma dívida de R$ 95 milhões da transportadora Dalçoquio, de Itajaí. A conversa para o acordo, que reduziu a dívida para R$ 40 milhões, teria ocorrido em um almoço entre Ideli e o ex-deputado João Paulo Cunha (PT/SP). A dívida seria entre a Transportes Dalçoquio, que tem matriz em Itajaí, e a BR Distribuidora, um dos braços da Petrobras.
Cerveró declarou ainda que a Dalçoquio era "patrocinador contumaz (frequente) da classe política" e citou Ideli Salvatti e o ex-deputado federal João Pizzolatti (PP) como políticos que comumente recebiam propinas da empresa.
Por meio de nota, a assessoria de imprensa de Ideli rebateu firmemente as acusações de Cerveró. Confira a íntegra:
"A ex-ministra Ideli Salvatti afirma que Nestor Cerveró mente em todas as suas declarações e declara total incompetência no caso das autoridades que acolheram a delação por não efetuarem a mais elementar checagem nas declarações desse réu confesso.
Ela explica que nas páginas 69 e 70 do processo, em um dos trechos o delator diz: "Em 2011 ou 2012 a SENADORA Ideli lhe telefonou..."Fui ao gabinete da Ideli NO SENADO...".
Ideli encerrou seu mandato como senadora em 2010. Nesse período (2011/2012) era ministra da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República tendo agenda pública e disponível para consulta na internet e controle de acesso ao Palácio do Planalto.
Ademais das incoerências e incongruências, o réu confesso "indica", "pressupõe" o recebimento de propina sem qualquer prova, indício, nexo causal, baseado em estórias que não têm qualquer sustentação."
O advogado do ex-deputado João Pizzolatti, Michel Saliba também negou o conteúdo da delação premiada e afirmou que seu cliente aparece em depoimentos por ter ocupado cargo de destaque no partido, mas que as acusações são falsas.
– O delator não está preocupado com a verdade, mas sim com sua própria liberdade. Esse é o grande problema da delação premiada no Brasil – disse Saliba.
A atual administração da Dalçoquio se manifestou por meio de nota oficial, em que destaca que as supostas ações relatadas por Cerveró teriam ocorrido ainda sob a antiga gestão da empresa. Confira a íntegra:
"Sobre a divulgação da delação premiada de Nestor Cerveró, já divulgada parcialmente em janeiro de 2016, a administração da Transportes Dalçoquio Ltda novamente se manifesta, como já feito em janeiro de 2016, quando da primeira divulgação pelo jornal O Estado de São Paulo.
A Transportes Dalçoquio foi vendida por seu antigo controlador, Augusto Dalçoquio, em março de 2015. Todos os fatos narrados pelo depoente são anteriores à março de 2015. Portanto, não temos como nos manifestar por supostos atos que a gestão atual não participou.
Sendo assim, os novos acionistas não podem responder por fatos que não possuem conhecimento uma vez que anteriores à sua aquisição.Mais uma vez nos colocamos à disposição da justiça para o esclarecimento e fornecimento de qualquer informação que possa elucidar os alegados fatos."
A advogada de Augusto Dalçoquio, Araceli Orsi dos Santos, informou que só vai se manifestar após tomar conhecimento integral da delação.