Um eventual fracasso do governo de Michel Temer é visto como o caminho para o PT retornar ao Planalto: ao final do processo de impeachment de Dilma Rousseff ou pela via eleitoral em 2018. Na próxima semana, a cúpula do partido prepara uma reunião em Brasília para traçar a estratégia de coesão da esquerda e formas de inviabilizar a provável gestão do PMDB. Parlamentares e militantes querem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na dianteira da resistência.
– Virá um governo sem legitimidade e com um programa que foi rejeitado pelos brasileiros. Qualquer ato fora do programa eleito será combatido _ promete o deputado Henrique Fontana (PT-RS).
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Em reservado, conselheiros de Dilma admitem a dificuldade de impedir a cassação, mas prometem manter o empenho para salvar o mandato conquistado nas urnas. Provavelmente de volta à oposição depois de 13 anos no poder, o PT pretende trabalhar em duas frentes, uma para Dilma e outra para Lula.
Na defesa da presidente supostamente afastada, a sigla manterá o discurso de golpe e a rotina de ações no Supremo Tribunal Federal (STF) até o julgamento final do impeachment no Senado. Os mais otimistas confiam que a Corte poderá anular o processo quando analisar no mérito se pedalada fiscal é crime de responsabilidade.
A ideia de "governo paralelo" tem força entre deputados e senadores, que se negam a chamar Temer de presidente. Para eles, a sede do governo ficará no Palácio da Alvorada, residência oficial onde Dilma despachará e comandará reuniões. Ela terá um grupo seleto de assessores nomeados, liderados pelo escudeiro Giles Azevedo, reforçado por ministros mais próximos, a exemplo de José Eduardo Cardozo, da Advocacia Geral da União. O núcleo vai orientar a atuação da bancadas da Câmara e Senado, que ameaçam não votar propostas enviadas pelo peemedebista.
– Temer jamais será chamado de presidente. Não vamos reconhecer nada mandado por um golpista ao Congresso – afirma a deputada Maria do Rosário (PT-RS).
A sede do PT em Brasília será convertida em extensão do "governo paralelo", chefiada pelo Secretario de Governo Ricardo Berzoini, que seguirá sendo chamado de ministro por petistas. O espaço servirá para reuniões e coletivas, assim como o gabinete da liderança do partido na Câmara.
Pressão para Lula tomar as rédeas da reação
As prováveis ações pós-afastamento de Dilma também miram a próxima eleição. No cenário ideal para o PT, Temer, com popularidade baixa, naufragará na tentativa de controlar inflação e a alta do desemprego. O desgaste será impulsionado pelo pente-fino prometido nos programas sociais e pelo forte ajuste fiscal executado a fim de reequilibrar as contas públicas.
Usada na campanha de 2014, a estratégia de alarmar fim de programas como o Bolsa Família já teve início. Ontem, o ministro Jaques Wagner postou em seu Twitter que "Milhões de pessoas terão de aceitar goela abaixo um projeto que retira direitos e corta programas sociais".
Os próximos passos da resistência de Dilma e do PT devem ser discutidos na semana que vem, passado o turbilhão do afastamento. Para segunda e terça-feira estão programadas reuniões da cúpula da legenda, com a presença da executiva nacional, presidentes de diretórios estaduais, parlamentares e lideranças de frentes ou movimentos sociais. Deputados começaram a levantar agendas em suas bases, já que Dilma e Lula devem aceitar convites para atos "em defesa da democracia" no Brasil e no Exterior.
– Vamos assumir defesa radical da denúncia de que se trata de um golpe – afirma o senador Humberto Costa (PT-PE).
Dentro do partido há pressão para que Lula tome as rédeas da reação, mesmo que isso implique em um distanciamento de Dilma. Relatos de petistas indicam um temor de Lula quanto a um possível abatimento da sucessora afastada do Planalto. Parte do PT, com a bênção do ex-presidente, fomenta a ideia da criação de uma grande frente de esquerda, que congregue partidos, sindicatos, movimentos sociais e outras organizações. São os caminhos para chegar forte nas urnas mais uma vez.
*ZERO HORA