Os acontecimentos das últimas horas, que culminaram com o afastamento por até 180 dias de Dilma Rousseff e que levaram Michel Temer (PMDB) à condição de presidente interino, foram acompanhados de perto por políticos de Santa Maria. O prefeito Cezar Schirmer, que é amigo pessoal e colega de partido de Temer, acredita que a solução dada pelo Senado, em afastar Dilma, pode esboçar melhora nos rumos do país. Contudo, o prefeito avalia que a agravada situação econômica será o maior desafio a ser superado ou, ao menos, minimizado por Temer e sua equipe, que terá outros gaúchos conhecidos por Schirmer, entre eles o deputado federal Osmar Terra, também do PMDB.
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– Há vários desafios. Primeiro, porque Temer não tem base popular, embora tenha base parlamentar. Será preciso criar essa base popular com ações efetivas que minimamente mostrem que é um governo diferente, que vai tomar medidas que mostrem à população que não é mais do mesmo. Já deu um sinal com os ministérios. Em segundo lugar, ele tem de deixar muito claro que não vai se meter na Lava-Jato, como falou, e que vai combater a corrupção. E terceiro, preservar coisas de natureza social, como Bolsa Família. Por último, tem de enfrentar a questão econômica, essa é fundamental, não é só estabelecer confiança política, tem de ter medidas.
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Schirmer cita outra questão que, para ele, é crucial: a credibilidade. Ele avalia que Temer tem de acenar com demonstrações “de que sabe o que está fazendo”:
– Tem de passar para a população que o governo tem começo, meio e fim, sabe o que faz e onde quer chegar. Se mostrar isso e a população compreender, então, acho que o Temer terá condições. Ele é habilidoso, tem conhecimento. Mas não vai ser fácil, pois vocês sabem o que caiu no colo dele. Não queria estar na pele dele.
Petista e tucano
Os dois representantes da cidade na Assembleia Legislativa, o petista Valdeci Oliveira e o tucano Jorge Pozzobom, também deram sua opinião. Valdeci acredita que o afastamento de Dilma acaba por manchar a história e, ainda segundo ele, coloca em risco a própria manutenção da democracia brasileira:
– A decisão soberana de 54 milhões de brasileiros foi atropelada pelos interesses de políticos que jamais assimilaram a quarta derrota eleitoral consecutiva. O controverso argumento das pedaladas prevaleceu em um Congresso comandado até pouco tempo por um réu da Lava-Jato, que publicamente chantageou o governo com a ameaça de impeachment. Esse ataque à democracia não nos desmobiliza. Vamos buscar reverter isso no Senado, no STF, ou em 2018, nas urnas.
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Pozzobom, que quase sempre tem uma fala provocativa, agora, adotou um tom de cautela. Para ele, o momento é de união:
– A partir de agora, esperamos uma estabilidade política, econômica e financeira para que o país volte a crescer. Não sairemos da crise imediatamente, mas a credibilidade será resgatada. O momento não é de celebração ou de festa, mas, sim, de união. E que o PT tenha maturidade de entender isso.
“Um golpe aos moldes de 64”, diz Pimenta
O único representante local na Câmara, o deputado Paulo Pimenta, que é uma das vozes mais combativas do PT, esteve ontem no Palácio do Planalto acompanhando de perto o anúncio do afastamento de Dilma. Pimenta diz que a hora é de denunciar o golpe à imprensa internacional. Ele avalia que a cobertura da mídia brasileira é tendenciosa e alinhada aos interesses da direita.
Pimenta acredita que a gestão de Dilma foi vítima de um golpe e fez uma comparação com o golpe militar de 1964, quando o Exército ficou à frente do comando do país:
– É um dia que deve ser lembrado e que ficará marcado nos livros de história como a data de um golpe. Ao contrário de 64, quando o golpe veio com tanques e militares nas ruas, agora a roupagem é outra. Esse é um golpe moderno com o amparo e o respaldo midiático, jurídico e parlamentar. Mas tenho certeza que esse governo não será reconhecido e, mais do que isso, não tem moral para imprimir reformas. Aliás, eles trarão uma coisa ao país: retrocesso.
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Pimenta ainda lembra que boa parte dos nomes do governo Temer é de alvos da Lava-Jato:
– Os nomes dos ministérios deles são um tapa na cara da sociedade brasileira, o que se está vendo são nomes de políticos investigados por corrupção e improbidade administrativa, entre outras ilicitudes. E havia gente que achava que seria um governo moralizador e com nomes notáveis. Notáveis, sim, mas no âmbito da Lava-Jato.
Agravamento da crise e obra
O petista é categórico ao dizer que Temer aprofundará a crise e comprometerá benefícios sociais aos pobres. Pimenta esteve reunido com Lula e Dilma ontem e diz que eles “denunciarão ao mundo o golpe e, com o apoio da população, retornarão ao governo”. Sobre a maior obra de Santa Maria, a duplicação da travessia urbana, feita com verba federal, Pimenta diz que não admitirá que Temer pare ou diminua o ritmo dos trabalhos:
– Se ele parar a obra, eu tranco a estrada.