Oposicionistas tomaram conta do Salão Verde da Câmara. Eles flanam numerosos, sorridentes e otimistas, consequência de um movimento que definem como o início da onda que poderá aprovar, em votação no domingo, o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. No final da tarde desta quarta-feira, depois de reunião de contagem, bateram o martelo: a oposição já contaria com mais do que os 342 votos necessários para enviar o afastamento de Dilma ao Senado.
Neste último balanço, 349 deputados foram mapeados como favoráveis ao impeachment. Outros 127 ficaram entre os contrários e 37 seguem indecisos.
– Fomos rigorosos na contagem, mas a tendência é de alta. Aumentamos em 18 o número de favoráveis de um dia para o outro. Agora é o efeito anchova. Elas andam em cardume e todas vão para o mesmo lado – definiu o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), um dos responsáveis pelos mapas de votos da oposição.
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Alguns parlamentares afirmam que serão alcançados entre 360 e 380 votos no domingo. Os motivos para o crescimento são diversos, mas as defecções da base aliada registradas nos últimos dois dias se projetam decisivas. O PP fechou questão a favor do impeachment na terça-feira e, na quarta-feira, o PSD fez o mesmo. Ambos estavam entre os maiores aliados que restavam na sustentação de Dilma. O PR permanece no governo, mas parte dos deputados se mostra indomável.
– Dos nossos 40 deputados, 25 devem votar a favor do impeachment – afirmou Bilac Pinto (PR-MG) no cafezinho da Câmara, dirigindo-se a Perondi.
Na contagem por Estados e o Distrito Federal, conforme os mapas da oposição, o sim ao afastamento ganhará em 25 unidades da federação, com margem folgada no Sul e Sudeste e apertada no Norte e Nordeste. As derrotas virão no Amapá e, possivelmente, no Ceará.
– O clima é de otimismo. Ela (Dilma) contava com PP, PR e PSD, que poderiam ocupar cargos deixados pelo PMDB, mas esse apoio acabou ruindo – disse o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).
O parlamentar baiano avalia que o parecer do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, recomendando a anulação da posse de Lula na Casa Civil ajudou no clima pró-impeachment. Janot apontou indícios de que Dilma praticou "desvio de finalidade" ao nomear o ex-presidente, investigado pela Operação Lava-Jato.
– A delação do senador Delcício (Amaral, ex-PT-MS), a decisão de nomear Lula, o grampo do "tchau, querida", sem perder de vista as pedaladas, o crime contra a lei orçamentária e o roubo nas estatais, tudo isso formou o clima favorável – analisa Pauderney Avelino (AM), líder do DEM.
Entre os oposicionistas, o diagnóstico é de que a tática do Palácio do Planalto de negociar cargos no varejo, direto com cada parlamentar, não surtirá mais efeito. Eles citam o caso do deputado Francisco Chapadinha (PTN-PA), que nesta quarta-feira devolveu cargo preenchido dias atrás por indicação dele no Incra. Fez isso para se livrar de compromissos com o Planalto e votar a favor do afastamento de Dilma.
Agora, vazamento de áudio de Temer ajudou
Sentindo-se em mar de ventos favoráveis, a oposição avalia que até o vazamento do áudio do vice-presidente Michel Temer, em que falava como se o impeachment já tivesse sido aprovado, ajudou. Inicialmente, foi temida repercussão negativa, a criação de imagem de conspirador vil que sentou na cadeira de presidente antes da hora. O PT engrossou o discurso de golpe. Mas, passados dois dias do episódio, a leitura é positiva.
– Achei bom o vazamento. A proposta Uma Ponte para o Futuro foi dura para os trabalhadores. Acho que vazou de propósito – disse Paulinho da Força (SD-SP), citando trechos em que Temer assegura que programas sociais serão mantidos.
– A gravação ajudou. Funcionou como a Carta aos Brasileiros do Lula, só que de forma mais moderna, via WhatsApp. Ele deixou claro que fará um governo de união e que não existe isso de acabar com Bolsa Família, como diz o PT – opina Vieira Lima.