Uma semana depois da derrota na Câmara dos Deputados, o Palácio do Planalto começa nesta segunda-feira, em condições amplamente desfavoráveis, a luta para tentar barrar o processo de impeachment no Senado.
À tarde, a Casa reúne-se para instalar a comissão responsável por produzir o parecer a ser votado em plenário, mas já se sabe de antemão que os apoiadores da presidente Dilma Rousseff terão pouco espaço para definir o rumo dos acontecimentos. Apenas cinco dos 21 senadores indicados para a comissão, que será ratificada nesta segunda-feira, manifestam apoio ao governo.
Leia mais:
Entenda como será o rito do impeachment no Senado
Como está a previsão do placar do impeachment no Senado Federal
Todas as últimas notícias sobre o impeachment
O presidente deve ser o peemedebista paraibano Raimundo Lira, que tem se declarado indeciso em relação ao impeachment. Se isso poderia dar alento a Dilma, o nome do provável relator é um balde de água gelada: trata-se do oposicionista Antonio Anastasia (PSDB), ex-governador de Minas Gerais e muito próximo a Aécio Neves, um dos principais líderes da oposição.
O PT tem se movimentado para tentar barrar a confirmação de Anastasia, alegando que o fato de ele já ter manifestado sua posição descredencia-o a fazer um trabalho isento. O partido ameaçou contestá-lo na Justiça.
– Não se trata de veto. Trata-se de uma constatação. Não tem como vir, por parte de qualquer senador do PSDB, um relatório isento – afirmou Jorge Viana (PT-AC), primeiro vice-presidente do Senado.
Independentemente do relator, a estimativa é de que 70% dos votos da comissão sejam favoráveis ao impeachment. Quando o relatório for à apreciação do Senado, bastará que seja aprovado por maioria simples do plenário, equivalente a 41 votos, para que o afastamento de Dilma – a princípio por 180 dias – seja decretado.
A situação é tão complicada para o governo que, na sexta-feira, dois dos quatro vice-líderes no Senado – Hélio José (PMDB-DF) e Wellington Fagundes (PRMT) – anteciparam na tribuna voto contrário à presidente.
Mais de um terço dos indicados responsde a inquéritos
Mesmo que algum dos indicados para a comissão não possa se pronunciar, mantém-se a tendência pelo envio de um relatório recomendando o afastamento da presidente. Levantamento do jornal O Estado de S.Paulo mostra que, se forem considerados também os suplentes, o partido do impeachment ostenta confortável maioria.
Dos 21 parlamentares indicados para a comissão do impeachment no Senado, mais de um terço responde a inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). Dos oito senadores com processos, quatro integram a lista dos políticos investigados pela Operação Lava-Jato. Antes de levar o caso ao plenário da Casa, o grupo será responsável por analisar a denúncia contra a presidente.
Lira e Anastasia, indicados para a presidência e para a relatoria, estão fora dessa lista. Em fevereiro, o STF arquivou um inquérito que investigava a suposta participação do tucano na Lava-Jato.
Já Gleisi Hoffmann (PT-PR), Lindbergh Farias (PT-RJ), Fernando Bezerra (PSB-PE) e Gladson Cameli (PP-AC) são os senadores investigados por suposto envolvimento na corrupção na Petrobras. Lindbergh é o que responde ao maior número de processos na Corte: cinco.
Gleisi, que foi ministra da Casa Civil no primeiro mandato de Dilma, é alvo de dois procedimentos. Ela também foi citada na delação do senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS).
O PLACAR ENTRE OS INTEGRANTES DA COMISSÃO
Cada bloco partidário do Senado (Governo, Oposição, PMDB, Democracia Progressista, Moderador, Socialismo e Democracia) indicou membros
INDECISO
Raimundo Lira (PMDB-PB), presidente – Indicado para presidir a comissão do impeachment, o senador foi empossado em 2014. Era suplente do senador Vital do Rego, que se tornou ministro do Tribunal de Contas da União. Lira foi senador constituinte (1987-1995). Em 1989, migrou para o PRN para apoiar o então candidato à Presidência Fernando Collor, que renunciou em 1992.
FAVORÁVEIS AO IMPEACHMENT
Antonio Anastasia (PSDB-MG), relator – Em 2014, foi eleito senador com 5.102.987 votos. Foi governador de Minas Gerais de 2010 a 2014. Antes, era vice-governador na gestão de Aécio Neves. Anastasia tem 54 anos e é professor de direito da Universidade de Minas Gerais (UFMG), onde leciona Direito.
Rose de Freitas (PMDB-ES) – Nascida em Minas Gerais e eleita pelo Espírito Santo, a senadora foi deputada estadual e deputada federal pelo Estado de adoção por seis mandatos consecutivos. Aos 67 anos, foi eleita em 2014 para o Senado com 776.978 votos.
Simone Tebet (PMDB-MS) – Com 640.336 votos, Simone foi eleita senadora pelo Mato Grosso do Sul em 2014. Tem 46 anos e já foi deputada estadual, prefeita de Três Lagoas, sua cidade natal, e também vice-governadora do Estado. É filha do ex-senador Ramez Tebet (PMDB-MS), que presidiu o Conselho de Ética do Senado no início dos anos 2000, durante o chamado Escândalo do Painel de Votação.
Waldemir Moka (PMDB-MS) – O senador de 64 anos foi eleito em 2010 com 826.848 votos em Mato Grosso do Sul. Já foi vereador e passou três mandatos consecutivos como deputado estadual e também como deputado federal.
Dário Berger (PMDB-SC) – Ex-prefeito de Florianópolis e São José, foi indicado para a vaga inicialmente destinada ao senador José Maranhão (PB). É empresário e natural de Bom Retiro.
Aloysio Nunes (PSDB-SP) – Paulista, tem 71 anos e já foi duas vezes deputado estadual e deputado federal por três mandatos consecutivos. Também já ocupou o cargo de vice-governador do Estado de 1991 a 1994. Elegeu-se ao Senado em 2011. Em 2014, concorreu à vice-presidência da República na chapa de Aécio Neves. É um dos principais articuladores do impeachment.
Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) – O senador tem 53 anos e já foi prefeito de Campina Grande, no interior da Paraíba, por três vezes. Também foi governador do Estado e deputado federal. Foi eleito para o Senado em 2011. É um dos principais articuladores do impeachment no Congresso.
Ronaldo Caiado (DEM-GO) – Uma das principais lideranças da oposição, tem 66 anos e acumulou cinco mandatos consecutivos como deputado federal de Goiás, antes de ser eleito em 2014 para o Senado com 1,2 milhão de votos. Médico e ruralista em Goiás, estreou na política na metade dos anos 1980 como líder da União Democrática Ruralista (UDR). Em 1989, concorreu à Presidência da República.
Ana Amélia Lemos (PP-RS) – Jornalista com larga experiência na cobertura do Congresso, em Brasília, Ana Amélia foi eleita em 2011 para o Senado. Em 2014, concorreu ao governo do Estado pelo PP.A senadora de 71 anos estava cotada para ser a relatora da comissão especial, mas a vaga acabou ficando com Anastasia, do PSDB.
José Medeiros (PSD-MT) – Assumiu a vaga deixada por Pedro Taques, eleito governador de Mato Grosso pelo PDT e hoje no PSDB, em 2015. Tem 45 anos. Eleito pelo PPS, transferiu-se em março para o PSD em busca de “mais espaço”. O PSD integrava o governo de Dilma Rousseff, mas se afastou recentemente.
Gladson Cameli (PP-AC) – Foi eleito em 2014 com 218.756 votos. Tem 38 anos e é um dos senadores mais novos da Casa. Foi deputado federal pelo Acre por dois mandatos consecutivos. O PP é dos principais partidos envolvidos na Lava-Jato.
Wellington Fagundes (PR-MT) – Foi eleito para o Senado em 2014 com 646.344 votos. O senador, de 58 anos, também já foi deputado federal por seis mandatos seguidos.
Zezé Perrella (PTB-MG) – Zezé tem 60 anos e já foi deputado estadual e federal por Minas Gerais. Protagonizou um episódio polêmico em 2013, quando um helicóptero de propriedade de uma empresa de sua família foi apreendido com mais de 400 quilos de cocaína e R$ 16 mil, que seriam resultado de venda da droga, no Espírito Santo.
Romário (PSB-RJ) – O ex-jogador de futebol elegeu-se para o Senado em 2014 com mais de 4,6 milhões de votos. Antes, havia ocupado cargo de deputado federal pelo Rio. Tem 50 anos.É cotado como possível candidato a governador do Rio em 2018. Em março, mudou sua posição anteriormente contrária ao impeachment e passou a defendê-lo.
Fernando Bezerra (PSB-PE) – Antes de se tornar senador, Fernando Bezerra Coelho também foi deputado federal e estadual. Foi prefeito de Petrolina, sua cidade natal. Também ocupou a posição de ministro da Integração Nacional no governo Dilma.
CONTRÁRIOS AO IMPEACHMENT
Vanessa Grazziotin (PC do B-AM) – Eleita senadora em 2011, Vanessa Grazziotin tem 54 anos e foi vereadora de Manaus por três mandatos consecutivos e deputada federal por mais três. É a única integrante da bancada de seu Estado, o Amazonas, a se posicionar contra o impeachment de Dilma.
Lindbergh Farias (PT-RJ) – Forte aliado de Dilma, o senador de 46 anos já foi prefeito de Nova Iguaçu por duas vezes. Antes, cumpriu dois mandatos consecutivos como deputado federal. Foi eleito senador em 2011. Despontou na política em 1992, quando, como militante do PC do B, presidia a União Nacional dos Estudantes (UNE) durante a campanha Fora Collor.
Gleisi Hoffmann (PT-PR) – Já foi ministra-chefe da Casa Civil no governo Dilma. A senadora de 50 anos foi eleita em 2011. É mulher do também petista ex-ministro do Planejamento e das Comunicações Paulo Bernardo. Está entre os políticos citados em delações premiadas da Operação Lava-Jato, incluindo a do ex-colega de bancada Delcídio Amaral (ex-PT-MS).
José Pimentel (PT-CE) – O senador cearense tem 62 anos e já foi deputado federal por quatro mandatos consecutivos antes de, em 2011, ser eleito para o Senado. Foi ministro da Previdênciano governo do presidente Lula.
Telmário Mota (PDT-RR) – Ex-vereador em Boa Vista, foi eleito em 2014 para a única vaga em disputa com a maior votação da história de Roraima (96.888 votos). Como relator do processo por quebra de decoro contra o ex-líder do governo no Senado Delcídio Amaral (ex-PT-MS), propôs a condenação do parlamentar à perda de mandato – sugestão aprovada por unanimidade.