No começo de fevereiro, Santa Catarina chegou a ter 41% de locais impróprios para banho (88 de 221 pontos analisados), enquanto a média histórica sempre variou entre 25% e 35%. Os dados dos relatórios da Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (Fatma) possibilitam ver a evolução do problema ao longo das semanas (veja no gráfico ao lado). Para o responsável técnico pelas análises, Marlon Daniel da Silva, o ponto mais crítico foi em Canasvieiras, no norte da Ilha, com o despejo de esgoto no rio do Braz.
– Foi um evento violento. Uma espécie de repetição do que já aconteceu em outros locais, mas com potência e abrangência maiores – disse Marlon da Silva.
Ele também afirmou que a solução passa por investimento maciço em infraestrutura e maior profissionalização do setor turístico.
– Não estamos aprendendo com os erros. Continuamos vendo que existe falta de saneamento – afirmou o responsável técnico.
Junto com milhões de turistas, recordes de faturamento no comércio e na ocupação hoteleira, a temporada de verão também coloca em evidência problemas que, às vezes, são notados no inverno. Nos últimos anos, foram a distribuição de energia elétrica e o abastecimento de água. Em 2016, a palavra que causou dor de cabeça para turistas e moradores foi “balneabilidade”.
A temporada terminou no dia 1º de abril, com a divulgação do 15º e último relatório de balneabilidade da Fatma. Desde 11 de dezembro de 2015, o órgão analisou semanalmente 211 pontos em 27 cidades do Estado. A referência para determinar se um local está próprio ou impróprio para banho é a concentração da bactéria Escherichia coli, coliforme fecal relacionado à falta de sanitização da água.
Diretor da Floram diz que “falta cidadania”
Para o diretor de fiscalização da Fundação do Meio Ambiente de Florianópolis (Floram), Bruno Palha, a principal causa dos problemas de saneamento é a falta de cidadania. Palha comanda, desde meados de fevereiro, uma operação na praia do Campeche, no sul da Ilha, para fiscalizar e autuar ligações irregulares de esgoto doméstico. Os trabalhos foram motivados por reclamações dos próprios moradores.
No dia 29 de dezembro do ano passado, uma forte chuva abriu a barreira que impedia o rio do Braz, em Canasvieiras, de desaguar no mar. Dois dias depois, uma queda de energia causada por vandalismo afetou o gerador da estação de tratamento que fica às margens do rio. A estação ficou sem funcionar por duas horas, tempo suficiente para que o esgoto produzido por 641 pessoas em um dia vazasse diretamente na água, segundo laudo pericial contratado pela Justiça Federal.
O documento aponta a concessionária de água e esgoto, a Casan, como uma das principais responsáveis pela poluição no rio. A empresa minimiza sua influência, afirmando ter servido como bode expiatório para a crise. Segundo a Casan, o norte da Ilha tem 100% de cobertura de rede e coleta de esgoto, mas 57% das residências e estabelecimentos comerciais estão irregulares.
Uma das ações para corrigir inadequações é o programa Se Liga na Rede, parceria entre a prefeitura e a Casan. Fiscalizações buscam identificar ligações incorretas ou imóveis que não possuem ligação à rede e funcionam com fossa séptica. Segundo o secretário de Habitação de Florianópolis, Domingos Zancanaro, em entrevista à RBS TV, das 2103 vistorias feitas em 2016, 80,8% estavam inadequadas.
Poluição arranhou a imagem do Estado
Para o presidente do conselho da seção catarinense da Associação Catarinense de Hotéis (ABIH-SC), João Eduardo Amaral, a imagem de Santa Catarina saiu bastante arranhada:– Nossa preocupação é com o futuro, sobre como isso vai afetar a negociação para a vinda de turistas. Precisamos saber que tipo de resposta virá do poder público.
A preocupação da ABIH-SC é compartilhada pela ONGs que fiscalizam as condições ecológicas do mar catarinense. A Sea Shepherd, por exemplo, acompanhou de perto o problema do esgoto na praia do Campeche. Análises feitas pelo instituto comprovaram a presença de altos índices de coliformes fecais no Riozinho e em uma língua negra que se formou no bairro.
– Não acho que o problema tenha a ver com o turismo. Vários pontos continuam impróprios todo o ano – disse Luiz Antonio Faraoni, coordenador da ONG em Santa Catarina.