Em depoimento aos investigadores da Operação Aletheia, desdobramento da Lava-Jato, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, afirmou que fazia o contato e solicitava as doações das empreiteiras para o instituto e que também tratava com os clientes dos contratos de palestras do ex-presidente por meio da empresa LILS Eventos.
Ele afirmou ainda que Lula não buscava recursos para seu instituto "por ser mais político" e disse ter procurado a empreiteira OAS para que a empresa "apoiasse" o aluguel de um galpão para armazenar parte dos bens recebidos por Lula na Presidência. Em cinco anos, entre 2011 e 2015 a empresa desembolsou R$ 1,2 milhão em aluguel para guardar os objetos do ex-presidente, o que é alvo de investigação da Lava-Jato, que suspeita que ele esse dinheiro teria sido lavado do esquema de propinas na Petrobras.
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Em 14 páginas, Okamotto dá detalhes sobre o funcionamento do instituto e da empresa de palestras do ex-presidente, que tem apenas ele e Lula como sócios. Ainda segundo ele, o petista nunca atuou em favor do governo para empreiteiras que contribuíram para o instituto, pois, segundo Okamotto, as doações "possuíam finalidades específicas" para os programas e projetos da entidade.
Ainda de acordo com Okamotto, o Instituto Lula movimenta de R$ 6 milhões a R$ 7 milhões por ano, valores arrecadados por ele por meio de transferências ou depósitos bancários junto às grandes empreiteiras que são investigadas por envolvimento no esquema de corrupção na Operação Lava-Jato. A versão de Okamotto vai de encontro ao depoimento do próprio Lula, que, diante dos investigadores da Lava-Jato, negou ter atuado para buscar recursos e mesmo tratar do dinheiro para sua entidade.
Sítio
O presidente do instituto afirmou ainda que frequentou "8 ou 10 vezes" o sítio em Atibaia, que, segundo ele, é uma chácara "que o pessoal compartilha", disse aos investigadores da Lava-Jato.
O imóvel, que recebeu reforma de empreiteiras investigadas por terem participado do esquema de corrupção na Petrobras, pertence aos empresários Fernando Bittar e Jonas Suassuna e está na mira da Lava-Jato, que suspeita que o ex-presidente Lula seja o verdadeiro dono do local. Okamotto ainda disse que foi ao local há um mês atrás "combinar alguma coisa" com Lula. Na ocasião também estavam lá a mulher do ex-presidente, Marisa Letícia, e Fernando Bittar, segundo Okamotto.
O presidente do Instituto Lula ainda disse ter conhecido o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, apenas em eventos sociais na casa do ex-presidente e negou manter relacionamentos profissionais com ele.
Okamotto também disse não ter conhecimento sobre as obras do tríplex do Guarujá que os investigadores atribuem ao ex-presidente e que foi reformado por grandes empreiteiras, bem como alegou não conhecer nenhum dos ex-diretores da Petrobras presos pela Lava-Jato e que foram indicados para as diretorias da Petrobras durante o governo Lula.
*Estadão Conteúdo