Hostilizados por parte dos manifestantes que protestavam contra o governo federal em São Paulo, políticos tucanos símbolos da oposição ao governo Dilma Rousseff tiveram dificuldades de embarcar na corrente popular que pedia a saída da presidente no domingo. Aécio Neves e Geraldo Alckmin deixaram a Avenida Paulista antes do previsto e, sob gritos de "oportunistas", atestaram a complexidade do momento político vivido no Brasil.
Analistas avaliam as vaias como um sinal de repúdio à classe política em geral.
– Há uma descrença muito grande nos políticos. E aquela era uma demonstração da sociedade civil – aponta a cientista política Lucia Hippolito.
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Mas o que explica o apoio do mesmo público a mais de uma dezena de deputados e senadores que discursaram sobre um caminhão na mesma avenida? Para Lucia, a hostilidade se direcionou a Aécio, visto como um chefe da oposição.
– O Aécio foi citado na Operação Lava-Jato. Ele não é uma oposição ao sistema, ele está dentro do sistema. No caso de Alckmin, ele abraçou medidas muito impopulares no governo paulista que geraram um desgaste sem precedentes, como a atabalhoada transferência de alunos de escolas – complementa o professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Caldas.
Líder na manifestação do último domingo em São Paulo, o coordenador nacional do Movimento Brasil Livre (MBL), Kim Kataguiri, rejeita a tese de que suspeitas de envolvimento de tucanos em casos de corrupção tenham motivado a hostilidade. Para ele, as críticas ocorreram porque o PSDB demorou a adotar uma postura mais "incisiva" na oposição:
– Acredito que a demora na aceitação, principalmente do PSDB, em encampar e levar à frente o pedido de impeachment ficou muito personificada na figura do Aécio e passou a ideia de que ele não é um oposicionista ferrenho. Mas acho que, desta vez, as vaias foram injustificadas. Depois de muita pressão, os partidos da oposição em geral aderiram (à defesa do impeachment) e foram para as ruas. Acho que a presença de Aécio e Alckmin foi salutar e que a crítica, neste momento, não é válida.
O movimento demonstrou aproximação à classe política ao convidar parlamentares que integram o comitê pró-impeachment (grupo criado na Câmara para organizar ações pelo afastamento de Dilma) para participar da manifestação. Pelo menos 15 deputados e senadores de siglas como DEM, PMDB e PSDB discursaram e receberam aplausos do público. Entre eles, estava o deputado federal Darcísio Perondi (PMDB-RS), que garante não ter ouvido as vaias aos colegas políticos, mas vê a situação com naturalidade.
– Eu acho que o povo pode vaiar. O povo está cansado. A política também é culpada por esse quadro que se instalou no Brasil – diz.
Enquanto nomes tradicionais resvalam no cenário de insatisfação popular, representantes do MBL surfam na onda que clama por mudanças no país. O movimento pretende lançar 120 candidatos a prefeito e vereador em diferentes cidades brasileiras nas eleições municipais deste ano. Para isso, tem saído atrás de diálogo com siglas como DEM, Partido Novo, PSC, PSDB e PPS.
Em São Paulo, o ativista Fernando Holiday tentará uma vaga na Câmara de Vereadores. Nos municípios gaúchos, ainda não há confirmação de nomes que devem se candidatar pelo movimento. O MBL ambiciona criar bancadas liberais e garante que os representantes, caso eleitos, terão a liberdade de votar independentemente do partido de filiação.