Questionada depois da homologação da delação premiada de Delcídio Amaral (sem partido-MS), a entrada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no governo Dilma Rousseff, confirmada na manhã desta quarta-feira, será com status de primeiro-ministro.
O líder petista chega para tomar as rédeas da reação ao impeachment, em uma composição que deixará a presidente Dilma Rousseff como figura secundária dentro do próprio Palácio do Planalto
A delação de Delcídio, que cita Lula e Dilma, ameaçou esfriar a nomeação. Pressionado por petistas a aceitar o cargo, que lhe garante foro privilegiado e um escudo contra o juiz federal Sergio Moro nas investigações do triplex do Guarajá e do sítio de Atibaia, Lula chegou na tarde de desta terça-feira a Brasília e se reuniu à noite com Dilma. Em conversas com aliados, ele teria sinalizado o desejo de virar ministro com superpoderes para mexer na articulação política e na economia, com aumento de crédito no mercado interno e liberação de recurso para obras públicas.
– Qualquer governo sente-se honrado em ter o Lula como ministro. Existe um desejo da bancada do PT e de líderes aliados de que ele venha para ser ministro – destacou o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).
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Nas negociações dos últimos dias foi ventilada a opção de colocar o ex-presidente na pasta das Relações Exteriores ou na Secretaria-Geral, mas a preferência ficou pela Casa Civil, atualmente comandada por Jaques Wagner.
– Não é para fugir, não. Se ele aceitar, é para ajudar o governo. Aliás, acho que nós precisamos agora é de muitos Lulas – disse a senadora Vanessa Grazziotin (PC do B-AM), antes da decisão de Lula de aceitar o cargo.
No Congresso, parlamentares consideram que Dilma será uma "figura decorativa" com Lula na Esplanada, situação que ela está disposta a bancar para evitar sua derrocada. A presidente também tem interesse em se reaproximar do PT. No PMDB, que prepara o desembarque do governo, acredita-se que chegada de Lula ajudará a recompor a base, porém há dúvidas da eficiência da estratégia diante do desgaste provocado por manifestações, crise econômica e Lava-Jato.
Além da tentativa de barrar o impeachment, a nomeação de Lula mira sua situação e de seus familiares na Lava-Jato. A pressão de petistas para que o ex-presidente se torne ministro ficou ainda maior com a homologação da delação de Delcídio. A indicação era defendida desde o ano passado, coro reforçado depois da condução coercitiva do líder petista.
Preocupação com eleição de 2018
A cúpula do partido preocupa-se com a possibilidade de Lula se tornar ficha suja até 2018, o que lhe tiraria da corrida ao Planalto. Pessoas próximas ao ex-presidente consideram que existe uma "operação" para tirá-lo da eleição, mediante uma condenação pelo juiz federal Sergio Moro e outra na segunda instância.
Neste cenário, o foro privilegiado é considerado mais seguro para as pretensões de Lula por questões de ritmo de denúncias e julgamentos. Dirigentes do partido lembram que, um ano após a abertura dos primeiros inquéritos contra parlamentares na Lava-Jato, apenas o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), se tornou réu em ação no Supremo Tribunal Federal (STF). Em conversas com outros ministros de Dilma, Lula ouviu a sugestão de que deve oficializar sua candidatura "o quanto antes".
– A ideia é marcar posição e mostrar que essa investigação tem como objetivo tirar o Lula da disputa eleitoral – avalia um ministro ouvido por Zero Hora.
As negociações para que o ex-presidente assuma um ministério provocaram reações. Líderes da oposição na Câmara entraram nesta terça-feira com ação popular, com pedido de liminar, na Justiça Federal para tentar impedir a nomeação de Lula.
– Qualquer juiz federal poderá acolher essa ação em primeira instância e, se fizer isso, a presidente poderá responder por crime de desobediência e obstrução da Justiça, uma vez que é claro o objetivo de blindar Lula para que ele não se encontre tête-à-tête (frente a frente) com o juiz Moro em Curitiba – disse Pauderney Avelino (DEM-AM), líder do Democratas na Câmara.