O Palácio do Planalto se agarra a prazos do rito do impeachment, recursos ao Supremo Tribunal Federal (STF), discursos aguerridos da presidente Dilma Rousseff e afinco da militância para enfrentar a crise mais aguda dos 13 anos da era petista. Conselheiros da presidente avaliam que as próximas duas semanas, com protestos pró-afastamento no dia 13, serão decisivas para esfriar os ânimos ou acelerar o derretimento do governo.
Na descrição de assessores e aliados, Dilma oscilou nos últimos dias entre momentos de "revolta" e "firmeza". Na quinta-feira pela manhã, destrinchou o conteúdo da reportagem da revista IstoÉ e solicitou a busca por documentos para sustentar sua defesa. Na sexta-feira, a condução coercitiva (quando a pessoa é conduzida para prestar depoimento) do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva provocou reunião emergencial com os ministros Jaques Wagner (Casa Civil), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), Edinho Silva (Comunicação), José Eduardo Cardozo (AGU) e Wellington César (Justiça).
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A defesa palaciana foi desenhada em duas partes, exibidas na nota e no pronunciamento feito por Dilma. O Planalto rebate, ponto a ponto, as acusações da delação premiada do senador Delcídio Amaral (PT-MS), a qual a oposição pretende aditar ao pedido de impeachment em andamento na Câmara. A intenção é desqualificar o delator.
- Acredito que seja lamentável que ocorra o vazamento de uma hipotética delação premiada que, se chegou a ser feita, teve como único motivo a tentativa de atingir a minha pessoa e o meu governo, provavelmente pelo imoral e mesquinho desejo de vingança e de retaliação - afirmou Dilma.
O desagravo a Lula tem viés político, centrado no "exagero" da Operação Lava-Jato. A defesa pública do padrinho foi vista como uma forma da presidente encerrar o seu afastamento do PT.
- Ela precisa da militância para mostrar que tem apoio da base social - avalia um interlocutor.
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Execução de projetos deve ser acelerada
Em suas agendas externas, Dilma tenta dar sinais de "normalidade" e de "força política". A presidente manteve as reuniões com prefeitos e governadores, na qual tratou de Lula e Delcídio. Dilma insistiu na recriação da CPMF e ameaçou elevar tributos federais caso a ideia fracasse. Polêmico, o tema terá o debate incentivado no Congresso, junto com a reforma da Previdência, a fim de tentar deixar o impeachment em segundo plano.
Apesar dos receios, conselheiros da presidente acreditam que há tempo para derrubar a imagem de que o governo está atônito e isolado. Como o pedido de afastamento e a ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estão longe de um desfecho, em um cenário mais pessimista Dilma aguentaria até maio. Assim, ordenou aos ministros acelerarem a execução de projetos.
Até a noite de sexta-feira, a viagem da presidente ao Rio Grande do Sul estava mantida. Na segunda-feira, entrega em Caxias do Sul unidades do Minha Casa Minha Vida. Na área de infraestrutura, a ordem é tocar a etapa burocrática das concessões de aeroportos e rodovias, com leilões a partir de junho. Promessa de campanha, a ponte do Guaíba terá prioridade. O governo acertou que vai remanejar recursos e levantar cerca de R$ 160 milhões para a obra em 2016.
Na operação antiqueda, petistas com trânsito no Judiciário tentarão sensibilizar o STF a retardar a publicação do acórdão do julgamento do rito do impeachment, congelando a instalação da comissão especial na Câmara.
A oposição vai segunda-feira à Corte. Em caso de avanço do rito do afastamento, PT e partidos aliados levarão enxurradas de ações ao Supremo. Outra ação considerada vital por ministros é assegurar o apoio do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Na avaliação de governo e da oposição, Renan será decisivo no desfecho da crise.
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