A Polícia Federal suspeita de que a Samarco esteja escondendo dados sobre o monitoramento da barragem da empresa de Fundão, que se rompeu em Mariana, em 5 de novembro, destruiu o distrito de Bento Rodrigues, matou 17 pessoas e deixou dois desaparecidos. Em busca de mais informações, a corporação cumpriu, na quarta-feira, mandado de busca e apreensão na Samarco em Mariana, na unidade de Ubu, localizada em Anchieta (ES), e na residência, em Viçosa (MG), de um engenheiro que prestou serviço para a mineradora. Ainda na quarta-feira, a mineradora entregou ao governo federal um novo plano de recuperação ambiental.
Segundo os delegados Alexandre Leão, chefe da delegacia regional de combate ao crime organizado, e Roger de Lima Moura, chefe do inquérito que investiga o rompimento da barragem, a apuração da queda da represa levantou a possibilidade de a empresa não ter repassado todos os dados que teria, o que pode ser punido com prisão dos responsáveis. Conforme eles, já foram constatadas divergências nos depoimentos de representantes da empresa, sobretudo em relação ao número de piezômetros (equipamentos usados para verificar o volume de água na barragem) e sobre as informações que esses medidores apontavam. A PF também já concluiu que os alteamentos da represa, obras realizadas para aumentar a capacidade, vinham sendo realizados em ritmo superior ao recomendado.
Leia mais
Izabella Teixeira: "Não podemos perder anos com ação judicial em Mariana"
Diretores da Samarco serão indiciados sob suspeita de homicídio
Polícia Civil apreende documentos em escritórios da Samarco
Procurada, a Samarco disse, em nota oficial, que "está colaborando com a diligência policial, assim como vem fazendo desde o início das investigações das causas do acidente com a barragem de Fundão".
Plano
Apesar de ter sinalizado, em reuniões técnicas, a necessidade de mais tempo para aprofundar o plano de recuperação ambiental para as áreas afetadas pela lama, a Samarco acabou cumprindo o prazo dado e entregou documento ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na quarta-feira. A primeira versão do plano havia sido rejeitada pelo órgão, que a considerou "genérica".
A mineradora, agora, afirma ter entregado algo "robusto", que "compreende um processo dinâmico, sob permanente revisão e aperfeiçoamento à medida que as ações evoluem", diz o diretor de Projetos e Ecoeficiência da Samarco, Maury de Souza Júnior. Ele destaca que o documento tem "uma característica adaptativa".
A nova versão, desenvolvida pela consultoria de engenharia, meio ambiente e emergências ambientais Golder Associates, "contém informações relacionadas aos impactos já identificados e às ações recomendadas para a recuperação ambiental".
As propostas estão distribuídas entre três trechos, que vão desde a barragem de Fundão até a região costeira. A Samarco cita a reconstituição das margens e calhas de cursos d'água, a dragagem do reservatório de Candonga, plantio inicial de gramíneas e leguminosas, monitoramento da qualidade da água e avaliação dos impactos da lama nas áreas de manguezais, e de reprodução de tartarugas-marinhas.
Nesta quinta-feira, o Ibama inicia uma vistoria em Barra Longa, uma das áreas mais atingidas pelo desastre de 5 de novembro do ano passado. Na próxima segunda, o órgão pretende verificar o término das principais obras de contenção dos rejeitos remanescentes de Fundão.