Depois de uma eleição tensa e recheada de negociações, Leonardo Picciani (RJ) segue na liderança da bancada do PMDB na Câmara. Aliado do Palácio do Planalto, ele derrotou por 37 votos a 30 o deputado Hugo Motta (PB), candidato chancelado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ).
– Agora é trabalhar pela unidade do partido. A bancada vai caminhar unida – comemorou o líder, que refutou o peso da mão do Planalto no resultado.
A recondução configura uma vitória para o governo Dilma Rousseff, que tem em Picciani um forte aliado na batalha para barrar o impeachment e aprovar as medidas do ajuste fiscal. Antigo padrinho do líder, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sofreu um golpe com a demonstração pública de perda de força, já que não dispõe da maioria na bancada do próprio partido, o que pode dificultar sua corrida para escapar da cassação. O presidente se empenhou no corpo a corpo da campanha de Motta, mas nega que o resultado seja uma derrota sua.
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– Nunca estive isolado da bancada. Quem votou em Picciani não quer dizer, necessariamente, que está contra mim – disse em coletiva.
A escolha se alongou pela tarde desta quarta-feira. Teve carro de som e manifestantes vestidos de mosquito da dengue. O grupo protestou contra o ministro da Saúde, Marcelo Castro, que deixou o cargo por um dia para reassumir o mandato de deputado e votar em Picciani. A exoneração escancarou o apoio do Planalto para a vitória do deputado fluminense.
Além de Castro, a bancada foi reforçada por Pedro Paulo (RJ) e Marco Antônio Cabral (RJ), secretários do governo do Rio de Janeiro, que também reassumiram os mandatos. Assim, 71 parlamentares estavam aptos a votar - Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Marinha Raupp (PMDB-RO) não compareceram. Do total, 69 participaram da escolha, sendo que dois votaram em branco, entre eles o gaúcho José Fogaça.
– A disputa foi mal construída no âmbito político. Nenhuma das correntes representava os interesses do PMDB. O Jarbas também não votou, se ausentou em forma de protesto. No PMDB, os velhos são os rebeldes – disse Fogaça.
A vitória de Picciani derrubou a articulação do restante do PMDB-RS, que participou da campanha a favor de Motta e contava votos até o início do sufrágio. Os prognósticos indicavam um resultado mais apertado, com vitória ou derrota por dois votos, o que não ocorreu. A ala de oposição garante que não mudará a posição pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Já o Planalto comemorou o resultado. Picciani terá a missão de indicar os oito membros do PMDB na comissão que vai elaborar o parecer sobre o impeachment. Por ora, negocia-se a escolha de cinco nomes contrários ao afastamento e três favoráveis. Caso o líder opte apenas por nomes alinhados ao governo, a ala dissidente promete retomar a guerra de listas, que chegou a tirar Picciani da liderança por oito dias em 2015.
– Se eles não respeitarem a proporcionalidade da bancada, vamos virar a mesa – alerta o deputado Edinho Bez (SC).
* Zero Hora