Base e oposição avisaram o Planalto: só darão apoio à reforma da Previdência se o PT assumir o tema como uma de suas bandeiras. Do contrário, as mudanças em busca do equilíbrio continuarão nos discursos presidenciais.
A necessidade de aprimorar a Previdência é consenso no Congresso, com o endosso de grandes bancadas, como PMDB e PSDB, e de confederações empresariais. O PT, pressionado por sua base social e centrais sindicais, admite a necessidade de alterações, mas considera o momento "inoportuno". Nessa postura, pesam o desgaste do partido e a proximidade das eleições municipais.
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A dificuldade de enquadrar a sigla da própria presidente Dilma Rousseff deixa legendas aliadas e a oposição receosas. Um dos principais nomes da oposição, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) indicou na última semana que votaria a reforma se o PT liderar a discussão:
- O governo não controla nem seu próprio partido. Como ela (Dilma) pode cobrar da oposição apoio a algo que ela não consegue construir na sua própria base?
A boa vontade tucana advém de concepções defendidas dentro do partido e do interesse do empresariado de promover as alterações, que sinalizariam ao mercado preocupação do país com as contas públicas. Contudo, a possibilidade de abraçar a reforma não é unanimidade. Para Onyx Lorenzoni (DEM-RS), o governo usa o tema para tirar outros problemas do foco:
- É uma cortina de fumaça.
Os problemas da Previdência são do médio e longo prazo. O governo deveria cuidar do rombo fiscal de agora, dos seus gastos imediatos, que não dependem de votações no Congresso. Basta a presidente querer e cortar despesas.
Maior bancada da Câmara e do Senado, o PMDB tem a reforma como plataforma de seu programa, que projeta idade mínima progressiva para as aposentadorias, partindo dos 65 anos para os homens e 60 para as mulheres.
O vice-presidente Michel Temer avisou a interlocutores que pretende se empenhar nas negociações no momento em que o PT fechar questão. Mas poucos peemedebistas demonstram desejo de votar mudanças na Previdência.
Nas articulações prévias, parlamentares levantam a sugestão de realizar uma reforma "fatiada", a partir de acordos costurados no fórum instalado pelo governo.
- Votaríamos os pontos de consenso. É difícil, mas seria um caminho - explica o deputado Elvino Bohn Gass (PT-RS).
Ciente do cenário, o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, indica em conversas com lideranças da base a dificuldade de aprovar a reforma em 2016. Nas projeções, aponta debates tensos com centrais sindicais, meses de queda de braço no Congresso e um terceiro tempo no Supremo Tribunal Federal.