Preso temporariamente na manhã de terça-feira, 16, após ser investigado por pelo menos 14 crimes sexuais contra pacientes, o nutrólogo Omar César Ferreira de Castro, 66 anos, foi encaminhado ao Complexo Penitenciário da Agronômica, em Florianópolis, no fim da tarde de terça-feira. Conforme o delegado Ricardo Lemos Thomé, autor dos dois inquéritos, os desdobramentos após a detenção é que vão determinar um possível pedido de prisão preventiva. O médico nega as acusações de estupro e o advogado responsável, Alceu Oliveira Pinto Júnior, disse que, a pedido dos familiares, não irá comentar a prisão.
– Vamos esperar possíveis novas denúncias de mulheres, além de analisar o material dos computadores e de câmeras de segurança para, então, encaminhar o pedido de prisão preventiva à Justiça – explicou o líder da investigação. – Existe muita coerência nos históricos trazidos pelas 14 mulheres ouvidas, que até então não se conheciam, e sobre os detalhes de como o médico abusava delas.
A prisão do médico incentivou outras mulheres a relatarem situações parecidas vividas no consultório. Pela página do DC no Facebook, pacientes e ex-pacientes contavam histórias próprias ou de conhecidas que também passaram por momentos de constrangimento com o médico. Além disso, a Delegacia da Mulher, Criança e Idoso de Florianópolis informou que mais seis boletins de ocorrência contra o médico foram feitos nesta terça, após a prisão.
Ainda no final da manhã de terça, Maria* entrou em contato por telefone com o Diário Catarinense. A advogada, cujo relato contido no boletim de ocorrência integra a investigação na Delegacia da Mulher, Criança e Idoso da Capital, mostrou-se aliviada com a prisão de Omar.
– Tudo o que eu vivi, volta à tona. É revoltante. Na época, em junho do ano passado, eu desenvolvi diversas doenças que tinham origem psicológica, porque muitas pessoas duvidavam e me perguntavam se eu queria levar isso (denúncia) adiante. Minha pele estourou, emagreci 18 quilos e meu maxilar se deslocava com frequência. Mas agora estou aliviada e espero que ele não volte a exercer a profissão – torce.
O advogado Francisco Emmanuel Campos Ferreira, que até a tarde de terça-feira representava Maria* e outras quatro vítimas do médico, destacou a gravidade do delito, que é considerado hediondo desde 2013 pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
– Há comprovação material do crime de estupro em todos os casos. A conduta caracterizava isso. Vamos atuar nas esferas criminal, civil e administrativa para impedir que esse médico continue atuando – garante o criminalista.
Nutrólogo pode ter CRM cassado
O Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina (CRM-SC) determinou a abertura de uma sindicância para apurar as denúncias contra o médico. No órgão, existem processos contra o nutrólogo – nenhum está relacionado à prática sexual, como os investigados pela Polícia Civil, mas sim à conduta médica.
Reunidos na manhã de terça, representantes do departamento jurídico e da diretoria do CRM não quiseram falar sobre os motivos dos processos em andamento. Explicaram que se trata de uma conduta ética, mas reconheceram a gravidade das denúncias que chegaram à Polícia Civil. Como os abusos teriam ocorrido dentro do consultório, momento em que o médico exercia a atividade profissional, o assunto será apurado pela corregedoria do CRM. A pena pode variar de uma simples advertência à cassação do registro profissional.
O médico
Omar César Ferreira de Castro é gaúcho e formou-se em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Até o fim da década de 1980, tinha dois registros profissionais ativos no Estado vizinho: clínico-geral e anestesista. Em 1990, transferiu a atuação para Santa Catarina com o registro adicional de nutrólogo, especialidade médica que estuda, pesquisa e avalia os impactos da ingestão dos nutrientes no organismo, conforme a Associação Brasileira de Nutrologia.