Uma semana após o fim do Carnaval, a eleição para a liderança do PMDB na Câmara terá deputados fantasiados em plenário nesta quarta-feira. O ambiente, contudo, não é nada amistoso na maior bancada da Casa. Por trás da disputa entre Leonardo Picciani (RJ) e Hugo Motta (PB) se articulam os interesses do Planalto e do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Para evitar uma vitória de Motta, aliado de Cunha, a presidente Dilma Rousseff autorizou o ministro da Saúde, Marcelo Castro (PI), a se licenciar e retomar o mandato para reforçar a campanha de Picciani. Em protesto, os eleitores de Motta prometem comparecer à votação vestidos de mosquito. Foi a forma encontrada para repudiar a manobra em meio à epidemia do zika vírus no país.
- A política se faz com símbolos. E o retorno do ministro simboliza que a tragédia do zika e da microcefalia não é prioridade para o governo - critica Osmar Terra (RS), afinado com Motta.
Além do retorno de Castro, dado como certo pelo sites dos jornais O Globo e Estado de S. Paulo, a manobra incluiu a volta de dois secretários do governo fluminense, Marco Antônio Cabral e Pedro Paulo. A participação do ministro da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera (RJ), também foi cogitada, mas descartada diante da garantia de fidelidade do suplente.
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Tamanha operação demonstra o que está em jogo na eleição. Para o governo, a vitória de um desafeto pode comprometer de vez a já tempestuosa relação com o PMDB. Nessa conta, entram a votação de projetos importantes para o Planalto e, principalmente, a retomada do processo de impeachment na Câmara. Na tentativa de atrair votos para Picciani, o Executivo autorizou a oferta de cargos e liberação de emendas.
Para Cunha, a votação é um teste de seu vigor político, abalado após uma sucessão de denúncias de corrupção. Além de retomar o controle sobre a bancada, a eleição de Motta pode lhe garantir o esteio necessário à sobrevivência política. Em conversas reservadas, ele chega a dizer que será cassado se o aliado perder.
- Votar no Motta é como se você estivesse votando em mim - tem dito aos correligionários.
Nas contas dos estrategistas de Motta, ele tem de 36 a 38 votos entre os 67 deputados da bancada, ou seja, mais da metade. Do lado de Picciani, a projeção é de uma disputa mais acirrada.
- Vai ser pau a pau. Quem ganhar será por apenas um voto ou dois - avalia um apoiador dele.
O desafio do vencedor será unir a bancada. Eleito com apenas um voto de diferença em 2015, Picciani nunca foi unanimidade. No final do ano, chegou a ser destituído após rebelião patrocinada por Cunha. Oito dias depois, reconquistou o posto. Desde então, os grupos estão em guerra aberta.
- Picciani foi personalista e sectário na condução da bancada. Hugo garantiu que vai dar espaços para todo mundo - diz Osmar Terra.
Os perfis
Hugo Motta (PB)
Integrante de uma dinastia que comanda a política no sertão da Paraíba desde os anos 1950, o médico Hugo Motta (PB), 26 anos, foi o deputado mais jovem da história, ao se eleger pela primeira vez, em 2010, aos 21 anos. Por indicação de Eduardo Cunha, presidiu a CPI da Petrobras, função na qual protegeu o padrinho e conduziu os trabalhos de forma que nenhum político fosse responsabilizado pelas fraudes na estatal. Diz ter posição contrária ao impea­chment, mas sua campanha é conduzida por oposicionistas que defendem o afastamento de Dilma. Afirma ser o único com capacidade de pacificar a bancada. Para se eleger, promete indicar aliados para comandar comissões.
Leonardo Picciani (RJ)
Em quarto mandato, o advogado Leonardo Picciani, 36 anos, é o menino-prodígio do PMDB fluminense. Elegeu-se pela primeira vez aos 23 anos e, aos 27, já comandava a poderosa Comissão de Constituição e Justiça. Filho de Jorge Picciani, o polêmico ex-presidente da Assembleia Legislativa do Estado, o parlamentar fez campanha para Aécio Neves (PSDB) nas eleições de 2014. Contudo, aproveitou a briga de Eduardo Cunha (RJ) com o Planalto para se aproximar da presidente Dilma Rousseff. Indicou dois aliados para a Esplanada, mas angariou a antipatia da bancada. Tenta ser reconduzido ao cargo com o apoio explícito do Planalto. Para se eleger, promete cargos no governo e liberação de emendas.
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