A volta do Irã ao mercado mundial de petróleo, após o fim das sanções econômicas que impediam o país – quarto maior produtor do planeta – de vender para Estados Unidos e Europa, tende a derrubar ainda mais o preço do barril, que na última semana já fechou cotado abaixo de US$ 30, o menor valor em 12 anos.
Governos, empresas e investidores ainda tentam digerir o novo patamar de preços, enquanto especialistas evitam falar em aprofundamento da crise global por conta das baixas cotações da matéria-prima. No entanto, começam a surgir relatos de perdas em instituições financeiras que têm pesados investimentos em energia e das próprias petroleiras privadas, que figuram entre as maiores companhias do mundo.
Nos últimos 18 meses, o petróleo perdeu mais de 70% de seu valor. Apesar da desaceleração da economia chinesa e do ritmo lento da Europa, o recuo desta vez seria mais influenciado pelo aumento expressivo da oferta de óleo, afirma João Luiz Zuñeda, diretor da MaxiQuim, consultoria em petroquímica.
– O impacto é diferente conforme a região. Para países exportadores, como Venezuela, Rússia e Arábia Saudita, é um problema. Mas para os importadores, a energia mais barata impulsiona projetos. Não significa uma desaceleração generalizada – avalia.
Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires pondera que o recuo forte causa sobressaltos nos mercados internacionais, surpresos com a força da queda, mas prevê volatilidade no curto prazo, seguida de acomodação, no médio prazo:
– Deve gerar crescimento nos países importadores, ganhos na balança comercial e favorecer algumas indústrias, como as automobilísticas.
As vantagens de uma queda acentuada na cotação da principal matéria-prima do planeta também são relativizadas porque as economias potencialmente mais beneficiadas, as da Europa e os Estados Unidos, estão às voltas com uma crise de deflação – ou seja, exatamente a queda persistente de preços. Diante da falta de perspectiva de ganhos, as empresas hesitam em investir, e esse comportamento aperta o nó da economia global.
No Irã, há sinais de que será rápido o retorno das cargas de petróleo ao mercado. Segundo o jornal britânico Financial Times, que cita imagens de satélite e fontes do setor, há entre 19 e 24 navios petroleiros carregados na costa iraniana, aguardando para zarpar. O impacto do regresso, no entanto, depende da capacidade do país de produzir petróleo, afetada pela queda de investimentos no segmento após o início das sanções.
Após quedas acentuadas nas maiores bolsas de valores do mundo na sexta-feira, as principais bolsas do Golfo Pérsico também fecharam em forte queda ontem com a expectativa de aumento das exportações de petróleo pelo Irã. Até aí, é o comportamento esperado dos países que terão de disputar o mercado já sobreofertado com um mais um fornecedor. Mas a bolsa de Xangai, na China, também teve na segunda-feira um tombo significativo, de 3,55%.
Redução do valor do petróleo piora situação da Petrobras
Se a queda no preço do petróleo afeta mais os países exportadores e menos os importadores, colhe o Brasil em um momento especialmente delicado. A área de produção da Petrobras sofre com a queda no preço do barril, porque o baixo valor de venda não remunera adequadamente os pesados investimentos necessários ao desenvolvimento de novos campos, especialmente os da área do pré-sal. Em parte, a perda é compensada pela área de Abastecimento, que importa combustível a preço cada vez mais baixo no mercado internacional e mantém os valores de venda no mercado doméstico, avalia Pires. Na semana passada, a diferença do custo entre o Brasil e o Exterior era de 60% para o diesel e 30% para gasolina. No entanto, para a empresa de petróleo mais endividada do mundo – a dívida bruta da Petrobras é de R$ 500 bilhões –, os preços abaixo de US$ 30 criam um novo temor: de quanto valem hoje as riquezas ainda não exploradas do pré-sal.