Tereza Campello é uma veterana do Fórum Social Mundial. Economista, participou da primeira edição, em 2001, quando trabalhava no governo Olívio Dutra (PT). Quinze anos depois, regressa ao evento na condição de ministra do Desenvolvimento Social, disposta a falar sobre redução da miséria e a reforçar o discurso contrário ao impeachment de Dilma Rousseff. No retorno ao fórum, a ministra terá uma série de encontros a partir desta quinta-feira em Porto Alegre. Confira os principais trechos da entrevista a ZH.
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A crise econômica pode devolver brasileiros à miséria?
A população de baixa renda conta com uma rede de proteção com a qual ela nunca contou. Bolsa Família, seguro-desemprego, aposentadoria rural, uma base que protege famílias e ajuda a girar a economia. A população de baixa renda tem água na cisterna, tem energia elétrica, ou seja, tem geladeira. O impacto será muito menor.
O orçamento de 2016 do Bolsa Família (R$ 28,1 bilhões) é suficiente para o programa?
O valor mantém o número de famílias, 13,9 milhões, e prevê folga de R$ 1 bilhão, garantindo aumento no valor. O Bolsa Família teve aumento real acima da inflação desde que a presidente Dilma assumiu (em 2011). O reajuste do benefício médio foi de quase 74%, contra uma inflação inferior a 38%.
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O programa vai completar 13 anos. O que é possível fazer para melhorá-lo?
Todos os anos temos avançado no controle e na transparência. Queremos melhorar o acesso à informação. Criamos um aplicativo para o telefone para chegar em tempo real às pessoas. Se a frequência escolar da criança não estava adequada, a família recebia uma cartinha. Ano retrasado vinha no extrato e, agora, vem no aplicativo.
O número de beneficiários com smartphone é significativo?
Ele tem aumentado. O beneficiário não precisa ter o telefone, ele pode pegar o do vizinho e usar o seu NIS (número de identificação social). O aplicativo é gratuito, traz todas as informações, o dia de pagamento. A juventude se comunica com base em inovação, inclusive na população de baixa renda.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) indicaram que o trabalho infantil cresceu no Brasil em 2014. Os números devem piorar com a recessão?
Os dados não foram ruins. O trabalho infantil no Brasil vem caindo de forma permanente. A Pnad é uma pequena amostra para um universo de 204 milhões de pessoas, está sujeita a flutuações. Acreditamos que não aumentou o trabalho infantil.
A senhora participa do Fórum Social Mundial. Existe o risco de o discurso se limitar a criticar o impeachment?
Acho que participei de todas as edições. O Fórum se opõe à ideia de um pensamento único, diz que "outro mundo é possível". As conquistas democráticas são fundamentais. Você não gosta da presidente, mas ela não feriu preceitos constitucionais. Então, terá de esperar terminar o mandato. O debate é a democracia, mas não vai ser o único.
Haverá impeachment?
Está afastado. O Brasil precisa mudar de agenda. Aqui (no ministério), as cisternas estão andando, a aquisição de alimentos está andando, o Bolsa Família está andando. O povo quer que o país ande para frente.
A senhora acredita que o PT vai superar esse momento turbulento?
Se dependesse da grande imprensa, o PT teria acabado em 2005. Minha preocupação é: temos de manter um projeto político que traga desenvolvimento com inclusão. A agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030 quer superar a extrema pobreza no mundo em 3%. O Brasil está em 2,5%. O debate no país é como avançar mais, pois não estamos satisfeitos.