Três adolescentes, dois de 16 e um de 17 anos, foram apreendidos pela Brigada Militar na madrugada de sexta-feira por suspeita de dois assaltos e uma tentativa de assalto, no centro e na região nordeste de Santa Maria. A Polícia Civil investiga agora se eles fazem parte dos chamados bondes.
Adolescentes são apreendidos após esfaquear três pessoas em assaltos em Santa Maria
Em dois dos bairros em que aconteceram os crimes, João Goulart e Menino Jesus, conforme o integrante de um bonde (veja entrevista abaixo), que não estava envolvido no crime, há pelo menos dois grupos que se intitulam assim naquela região. Além do roubo, eles agrediram as vítimas com facadas.
Adolescente de 14 anos morre durante briga no centro de Santa Maria
A Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) e o Ministério Público pediram a internação do trio. Eles seriam encaminhados ainda na sexta-feira ao Centro de Atendimento Sócio-Educativo (Case). De acordo com o titular da DPCA, delegado Gabriel Zanella, será feito um cruzamento de dados para tentar identificar se os adolescentes fazem parte de algum bonde.
Assassinato de adolescente expõe a violência que envolve jovens em Santa Maria
Conforme o delegado regional da Polícia Civil, Sandro Meinerz, há 29 grupos de jovens, com mais de cem integrantes identificados. Os dados foram juntados desde 2014 e são resultados, principalmente, de investigações da própria DPCA e da 3ª DP, em casos envolvendo pichação. Conforme Meinerz, nem todos os grupos podem ser considerados bondes, já que metade deles não tem envolvimento em práticas violentas.
Morte de adolescente de 14 anos foi motivada por rixa, diz delegada
- Identificamos membros e delitos dos quais eles participavam. O nosso objetivo, com esse mapeamento, é facilitar a identificação e saber que determinado delito foi praticado por um grupo específico. Tendo esses dados, podemos agir e tomar providências. Depois da morte daquele menino, em abril, acalmou bastante (o movimento dos bondes), mas os grupos continuam agindo - ressalta o delegado.
Após morte de adolescente, promessa de vingança surge nas redes sociais
O Centro Regional de Operações e Inteligência Policial da Brigada Militar também faz um trabalho semelhante há algum tempo. A BM também intensificou o trabalho de abordagens a adolescentes no centro da cidade, como o Calçadão, as praças Saldanha Marinho, Saturnino de Brito e dos Bombeiros e também no Parque Itaimbé, principais pontos de encontros desses grupos. As apreensões de armas, principalmente em esconderijos no Centro, é outro fator atacado pelos policiais militares.
Força-tarefa para frear violência entre jovens em Santa Maria
De acordo com a Guarda Municipal, durante todo o ano de 2015 foram atendidas 33 ocorrências envolvendo briga entre bondes no centro da cidade e em escolas.
"Quando se encontram na rua, dá briga"
Adolescente integrante de um bonde de Santa Maria conta como funcionam os grupos. Dois, chamados de CZN, da zona norte, e outro, SPC, da zona leste, mas, que, na verdade é formado por integrantes que moram na região nordeste, são os principais rivais.
Diário de Santa Maria - Por que chamam esses grupos de bondes?
Adolescente - Isso vem da América, onde bonde, facção, gangue, comando, tudo isso significa um grupo de jovens.
Diário - E qual o motivo das brigas entre esses grupos?
Adolescente - Isso é de anos, essas brigas entre as duas zonas. Mas, ultimamente, estão levando muito a sério. Isso tudo começou em festas, chamadas junções. Por exemplo, se ocorria festas na Zona Leste, os "piá" aqui da Zona Norte iam lá e acabavam com as festas deles e eles acabavam com as nossas. Aí, depois passou pro Whatsapp e Facebook, com ameaças e coisas do tipo.
Diário - Realmente marcam horário e local pelas redes sociais para brigar?
Adolescente - O nosso objetivo aqui (Zona Norte) é se defender deles. A gente não procura briga. Eles (Zona Leste) é que procuram. Normalmente, só ficam ameaçando, mas, quando se encontram na rua, dá briga. Não marcam hora nem dia, só falam "quando a gente se pechar, vamos ver quem é mais que quem".
Diário - Como conseguem armas para andar armados?
Adolescente - É mais facas e facões, mas a gente trabalha um mês ali, vai lá e compra um calibre 22. Se pega uns R$ 700, já compra um calibre 32. E assim vai. Não sei onde compram por que nunca comprei, mas deve ser de algum traficante. Aí, os "piá" vão lá, compram e já se acham homem.
Diário - O que mais acontece nos bondes?
Adolescente - Normalmente esses "piá" que brigam usam cocaína e maconha. Todos não, mas 90%, sim. Eles cheiram para ficar "locão", coisa e tal. Eu já usei, mas não uso mais. Larguei de mão essa vida, não me levava a nada. Eu estou sem estudar, estou sem serviço, tudo por causa dessas brigas. Tenho que andar me cuidando na rua, sabe? Eu trabalhava, fazia curso e perdi tudo isso. Agora, vi que sair para a rua para brigar não me levava a nada.