Não se sabe ao certo o dia, mês e ano em que Jesus nasceu. O Deus absconditus (escondido) não tinha carteira de identidade nem certidão de nascimento. O 25 de dezembro, que era uma festa pagã ligada ao equinócio de inverno europeu, foi definido como a data para celebrar o nascimento de Jesus apenas no ano 354, por ato do papa Libério. E como tal cruzou 16 séculos, enobrecendo o dia 25 com a perene lembrança do fato anunciado pelo anjo aos pastores, na narrativa de São Lucas: "Não tenhais medo. Eu vos anuncio uma grande alegria que será para todo povo. Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um salvador, que é o Cristo Senhor".
Há muito mais a comemorar quando, no 25 de dezembro, as famílias se reúnem, as cidades de enfeitam e trocam-se mensagens de amor e esperança em torno do Menino na manjedoura, do que quando se paganiza o Natal, celebrado em torno de nada, na desvalida substituição da fé por coisa alguma. Não estou dizendo que seja vã a reunião familiar e destituído de sentido o afeto que ali se expresse. Estou afirmando, apenas, que os adereços natalinos não fazem e não são o Natal da longa tradição cristã. Estou dizendo, também, que a descristianização em curso na cultura ocidental, a autofagia da nossa civilização, não poupa qualquer de seus fundamentos e manifestações. Metaboliza e excreta suas fontes. E por aí vai-se o belo, o bem, a verdade. Vai-se a fé e vão-se as virtudes.
Em várias ocasiões, ao longo destes últimos anos, falando a diferentes auditórios, tenho recolhido respostas a esta pergunta: "Quantas vezes, em sala de aula e em qualquer dos níveis de ensino, do fundamental ao superior, ouviram vocês referências ao extraordinário e positivo papel do cristianismo e da Igreja na história e na construção da nossa cultura e da nossa civilização?". Raramente, muito raramente, alguém responde de modo positivo a essa pergunta. E quando inverto a questão, indagando sobre menções pejorativas, as reações são unânimes. Sim, dizem, fala-se muito sobre Cruzadas, Inquisição, Galileu, Giordano Bruno... Isso não é apenas um erro. É escandalosa má fé e gigantesca omissão da verdade! Nas proporções demográficas em que acontece, está paganizando a sociedade, desinteressando os pais sobre o que é ensinado aos filhos e franqueando espaço às desmedidas ambições ditas educacionais do Estado.
Não há maior desperdício do que aquele a que é submetido o Deus que se dá como presente a quem parece preferi-lo ausente. Trocar o Natal cristão por uma festa pagã é tão mau negócio quanto trocar Jesus Cristo pelo Leviatã estatal. É preciso resistir. A todos, um Feliz Natal do Menino Jesus.