O grande paradoxo da balbúrdia que leva ao pedido de impedimento da presidente Dilma Roussef, é que estamos mal e "em crise" porque fizemos o correto e o justo. A "culpa" é da Lava-Jato...
Se o procurador-geral da República e seus procuradores não enfrentassem os "grandes" da política e do setor privado, se o governo "amarrasse" a Polícia Federal e se não houvesse um juiz isento, a mega corrupção na Petrobras seguiria oculta e os políticos em serena paz. Nunca saberíamos que grandes empresas, mais o PP, PMDB e PT (e até o opositor PSDB) articularam o maior assalto do país. Em Brasília, todos seriam ainda "Vossas Excelências". Eduardo Cunha seguiria tratando Jesus Cristo com a intimidade de "filho" nas suas páginas '@jesus.com' na internet...
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Eis a contradição que leva à "crise" e ao processo de "impeachment". O presidente da Câmara Federal, do PMDB, passou à oposição feroz porque Dilma não impediu que o procurador-geral da República o denunciasse por subornos e descobrisse contas secretas na Suíça. Disse isto em público e, agora, foi além.
Na decisão em que acolheu o "impeachment", Cunha analisa o pedido e afirma: "...são acusações gravíssimas, mas é igualmente certo que muitas são embasadas praticamente em ilações e suposições, em especial quando os denunciantes falam da corrupção na Petrobras, dos empréstimos do BNDES e do suposto 'lobby' do ex-presidente Lula".
Cunha fantasia o assalto à Petrobras de "ilação e suposição" e inocenta por antecipação operações do BNDES e de Lula, para absolver-se como juiz de si próprio. Um dos autores do pedido de "impeachment", o jurista Miguel Reali Jr., definiu com precisão: "No desespero, sem legitimidade para conduzir o processo, Cunha joga o 'impeachment' como areia nos olhos da nação".
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O pedido atual me leva ao de Collor, em 1992. Mas, ao buscar as origens de cada um, surgem apenas diferenças.
Talvez a paixão e o espírito de seita que tomou conta do país após 2002 (quando o prestidigitador Lula da Silva subiu ao palco e tirou coelhos da cartola) dificulte ver a gênese de cada qual. Talvez o oportunismo dos políticos nos tape a visão, mas 1992 não foi o que 2015 é.
No processo de Collor, o presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro, deu continuidade ao inquérito parlamentar que apurou casos de corrupção, a partir de denúncias do próprio irmão do presidente da República. Estava em jogo a dignidade presidencial.
Agora, tudo surge de um ardil de Cunha para tentar manter seu mandato. Concretamente, Dilma só é acusada pelas "pedaladas fiscais", manobra contábil utilizada por todos os antecessores, que apelaram aos bancos estatais para não se afogar no déficit. Nada recomendável, mas tampouco indigno. Dias antes, porém, o Congresso aprovou as 'metas fiscais' de Dilma e, assim, legalizou as 'pedaladas'.
Ninguém pode afastá-la pelo governo medíocre em que o PT e o PMDB (do vice Temer) disputam com a base alugada qual o ministro mais inerte...
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Agora, Brasília será um grande leilão. O balcão de negócios se agigantará. De ambos os lados, a barganha comandará tudo. Na Câmara Federal, logo no Senado, cada voto vale três anos de mandato presidencial. Todos votam. Até os 23 deputados e 13 senadores réus no assalto à Petrobras, entre eles os presidentes da Câmara e do Senado, ambos do PMDB.
E, na eventual hipótese de que Dilma saia, quem entra?
O vice Michel Temer, do PMDB, que já cogoverna e manda em áreas vitais. Mudará o ministério medíocre que ajudou a formar? Saindo Dilma, ficam todos os outros profissionais da bicicleta política - se param de pedalar, caem da montaria.
No tiroteio geral de mentiras, Temer desmentiu que (como estudioso de Direito Constitucional) tenha dito que "não vê lastro" no processo de impedimento. Mostrou onde quer chegar.
Mas, quem votou nele? O vice é mudo acompanhante do candidato presidencial. Quem foi levado a votar em Dilma só porque Temer era o vice?
Quem fala das causas profundas, em repensar os partidos, hoje aglomerados de ambição pessoal, sem projeto de sociedade e nação?
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