A 1ª Vara do Tribunal do Júri de Porto Alegre condenou nove pessoas envolvidas na morte do soldado Iuri Merlini Martins, da Brigada Militar, ocorrida dentro de uma churrascaria no bairro Jardim Leopoldina, em janeiro de 2006. Entre os sentenciados, seis são policiais militares. O PM Iuri, que trabalhava no restaurante, morreu numa emboscada, feita por ter contrariado os interesses de uma quadrilha envolvida em narcotráfico e corrupção.
Um dos condenados, a 27 anos de prisão em regime fechado, é o traficante e assaltante Fabiano Leon Vieira, por homicídio quadruplamente qualificado - mediante paga de R$ 5 mil, motivo torpe (para assegurar a impunidade dos traficantes e PMs nos crimes de tráfico de narcotráfico e corrupção), e com recurso que dificultou a defesa da vítima, além de formação de quadrilha armada e associação para o tráfico de drogas. O PM assassinado estava de folga, desarmado e fazendo "bico" como churrasqueiro.
Giovani dos Santos foi absolvido pelos jurados pelo homicídio, mas condenado a cinco anos, seis meses e 10 dias de prisão (em regime semiaberto) por formação de quadrilha armada e tráfico de drogas. Os PMs Claudiomiro dos Santos Gonçalves e Nelson da Silva Gonçalves foram condenados a seis anos de prisão em regime fechado (porque reincidentes), por formação de quadrilha armada e associação para o tráfico. Os também policiais militares Léo da Silva Siqueira e Geremias Vieira Azevedo deverão cumprir pena de cinco anos e dois meses no regime semiaberto, pelo mesmo motivo. A Justiça determinou a perda do cargo público aos quatro policiais.
Em 2014, também pela morte de Iuri, já tinham sido condenados o traficante Nilton Renato da Conceição, o Sabonete (a 24 anos e um mês de prisão) e outros dois PMs, Josevaldo João da Silva (a cinco anos e seis meses de prisão) e Otto Gentil Barbosa Gesswein (a dois anos de prisão). A acusação foi realizada pelo promotor de Justiça Eugênio Paes Amorim
O crime
Iuri foi morto ao meio-dia de 28 de janeiro de 2006, na churrascaria Ponto Um, no bairro Jardim Leopoldina, com tiros no tórax. O atirador foi Fabiano Leon Vieira, que estava acompanhado de Giovani e um indivíduo não identificado. Conforme investigações da Polícia Civil, a morte foi encomendada pelo traficante Nilton Conceição, o Sabonete, ao preço de R$ 5 mil. O soldado Iuri foi morto porque tinha conhecimento da atuação da quadrilha, formada pelos traficantes e colegas de trabalho, lotados (como ele) no 20º Batalhão de Polícia Militar. Os policiais trabalhavam em conjunto com traficantes e ladrões do Passo das Pedras, fazendo proteção a autores de assaltos e tráfico, segundo o inquérito policial. Iuri teria sido morto pelo temor de que denunciasse os crimes dos colegas.
Execução no dia de folga
Iuri Merlini Martins
- Na tarde de 28 de janeiro de 2006, três homens invadiram a churrascaria da família do soldado Iuri Merlini Martins, 26 anos, no bairro Rubem Berta, em Porto Alegre, e o executaram a tiros. Ele estava de folga e ajudava no estabelecimento.
- Investigações policiais apontaram que cinco colegas de Iuri estavam bebendo cerveja em um bar localizado na frente da churrascaria e nada fizeram para impedir o crime. O soldado foi morto porque teria prendido bandidos aliados a um grupo de PMs envolvido em crimes.
- Em outubro de 2006, a Polícia Civil indiciou 11 PMs por participação no crime, além de outros cinco homens. Três seriam os executores _ dois deles estão entre os réus ainda não julgados. Dois meses depois, o Ministério Público denunciou o grupo à 1ª Vara do Júri.
- Um dos acusados de mandar matar Iuri, Marcelo Camargo Machado, o Coelho, foi preso em janeiro de 2007. Dois dias depois, foi encontrado enforcado na Penitenciária Estadual do Jacuí, em Charqueadas, sob controle de PMs.
- Os 11 policiais suspeitos foram julgados pela Justiça Militar e absolvidos por unanimidade em abril de 2007. Não haveria provas de que cometeram crimes passíveis de punição pelo Tribunal Militar.
- Mesmo inocentados na esfera militar, sete PMs viraram réus com outros quatro criminosos na 1ª Vara do Júri. Dos policiais, apenas dois seguem na Brigada Militar, dois se aposentaram e três foram exonerados (por motivos diversos não informados pela BM, mas sem ligação com a morte de Iuri).
- Foram condenados seis PMs e três traficantes.