Internada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Regina, em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, a estudante de Direito Ana Cristina Nalovaiko, 34 anos, falou com exclusividade a Zero Hora depois de ter sido baleada, no domingo, quando chegava ao condomínio onde mora com o marido, o médico-cirurgião Rogério Neves, e os dois filhos, no bairro Ouro Branco. Ela diz ter "certeza absoluta" de que não foi atacada devido a uma briga de trânsito - hipótese tida como a mais provável pela Polícia Civil até o momento - e que, após se recuperar, irá embora para Itajaí (SC), sua cidade natal, com os dois filhos.
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Ana perdeu 30% do fígado em razão do disparo, vindo de um Corolla que parou ao lado de seu carro após uma perseguição por quase 10 quilômetros. O veículo seguiu o carro de Ana desde a saída de um shopping na BR-116 até o portão do condomínio. Um dos filhos dela, de 12 anos, acabou atingido pela mesma bala na coluna. Após cirurgia, o menino recupera aos poucos os movimentos das pernas e não corre risco de ficar paraplégico.
Delegado responsável pelo caso, Enizaldo Plentz se disse surpreso pela afirmação da vítima e garantiu que a estudante confirmou em depoimento a possibilidade de uma briga de trânsito ser a motivação do crime.
- Me surpreende muito essa afirmação feita por ela (Ana). Na vez em que conversamos, no depoimento oficial, ela disse que parecia ser mesmo uma briga de trânsito. Então, tem algo errado nisso aí. Ela, como vítima, não tem competência para fazer esse tipo de afirmação. Está abalada com a história. Quem investiga é a polícia - rebateu o delegado.
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A apuração tenta localizar o Corolla que era dirigido pelo atirador. Ainda não há suspeitos identificados.
Abalada por não ter ideia dos motivos de quase ter sido assassinada em frente à família, Ana não pretende mais voltar a Novo Hamburgo.
O que aconteceu no domingo, quando você saiu do shopping?
A gente saiu de uma loja, onde os meninos brincavam no videogame, e fomos comprar pipoca. Dali, seguimos embora. Não notei nada estranho, mas os guris disseram depois que viram (que estávamos sendo perseguidos). Eu notei também quando o carro começou a dar sinal de luz atrás de mim, já na BR-116. Como ele queria passar, se estávamos à direita e tinha espaço na esquerda? Eu fui para um lado, e ele passou por mim. Fui para outro, ele voltou. Não consegui ver quem era quando olhei para o lado. Ele queria que eu parasse o carro. A estrada tava tranquila, e ele seguiu atrás de mim, bem calmo. Pensei "meu Deus, estamos sendo seguidos, o que eu faço?". Quando cheguei na frente do prédio, fui devagar, e ele também. Tinha um carro de um vizinho obstruindo a passagem do portão, eu ia entrar e derrubar tudo. Só deu para abrir o vidro e olhar para o lado que veio a bala. Botei a mão na cabeça e senti a bala entrando. Ele saiu bem lento e foi embora.
A polícia está falando que foi possivelmente uma briga de trânsito.
Em nenhum momento. Eu não abri o vidro ou falei algo, nem sabia quem era. Tudo aconteceu de forma estranha na BR (116). Até então ele agia normalmente, mas na BR mudou. Ele fazia sinal de luz, baixava o vidro, e eu pensava "o que esse cara está querendo?" Em nenhum momento eu briguei com ele. A sensação que eu tenho é de que a pessoa me conhecia, sabia quem eu era. A pessoa estava ali para fazer aquilo. Tenho certeza absoluta de que não foi briga de trânsito. Se fosse, eu teria brigado! Por que ele deu sinal de luz? Por que tinha a arma dentro do carro?
Então, o que pode ter acontecido? Você tem desavenças ou inimigos?
Não, não. Eu sou uma pessoa reservada, não gosto de me abrir muito e sair de casa. Nunca fiz mal a ninguém. Até pensei que pode ter sido algo contra o meu marido, pelo meio onde ele trabalha. Não sei.
Você pretende ir embora de Novo Hamburgo?
Sim, eu vou. Não tem mais nada que me prenda aqui. Não ficarei mais sozinha aqui.
Confira em vídeo entrevista com o marido de Ana Cristina, Rogério Neves: