Somente exames do Departamento de Perícias do Interior (DPI) poderão determinar se o homem que morreu após uma série de confusões em Flores da Cunha ingeriu substâncias que pudessem alterar o comportamento. Natural do Haiti, Jean Wesly Moriseme, 28 anos, se envolveu em ocorrências de briga e desordem antes de ser baleado pela Brigada Militar (BM) na noite de quarta-feira. A hipótese é de que ele tenha tido um surto psicótico.
Confira as últimas notícias do Pioneiro
A confusão começou ainda durante à tarde, na frente da rodoviária de Flores da Cunha. Novas informações, não confirmadas pela Polícia Civil, indicam que ele também pode ter promovido confusões no Centro em Caxias do Sul, mas na manhã de quarta-feira.
A delegada responsável pelo caso, Aline Martinelli, se diz impressionada pela agressividade do haitiano.
- Já vi pessoas drogadas em estado de surto. Mas esse homem estava enlouquecido, transtornado. Não sabemos o que ocorreu com ele - diz a policial.
Segundo Aline, os PMs usaram a arma de fogo para se proteger e tentar contê-lo, versão reforçada por uma testemunha. Um único disparo atingiu o joelho direito de Moriseme, que morreu no hospital. Antes de apelar para a arma, os PMs teriam usado spray de pimenta para atordoar o haitiano, sem resultado.
O capitão Ângelo Ferraz, comandante da BM da cidade, explica que depois do uso do spray, o homem avançou contra a equipe e arrancou um pedaço do dedo da mão de um brigadiano com uma mordida.
- O disparo foi efetuado a partir dessa agressão estava na viatura na tentativa de parar o agressor - relata o oficial, a partir de versão dos PMs
Surto sem explicação
Na ocorrência de Flores, Moriseme teria agredido dois compatriotas quando foi detido e algemado pela BM pouco antes das 16h. Pela versão repassada à polícia, ele também rasgou as roupas dos outros dois homens sem motivo aparente e as espalhou pela rua. A caminho do plantão da Polícia Civil, ele danificou a porta de uma viatura a pontapés. Já na delegacia, precisou ser contido novamente por PMs e agentes da Civil. A delegada Aline o autuou por dano ao patrimônio.
Dali, foi levado para o Hospital Fátima, de Flores, onde recebeu medicação e ficou sob observação até receber alta e ser liberado por determinação da Justiça.
- Foram necessárias de três a quatro doses de medicamento para acalmá-lo - relata Aline.
Assim que deixou o quarto, ele promoveu desordens dentro do Fátima. Novamente acionada, a BM conduziu o paciente para fora do hospital. Mais tarde, pouco antes das 21h, o plantão da BM recebeu telefonemas informando sobre uma confusão próximo a um posto de saúde da Rua John Kennedy, no Centro. No local, os policiais constataram que o autor da desordem era o mesmo que havia sido contido e algemado à tarde. Não houve prisão, e o homem foi liberado novamente.
Por volta das 23h30min, ele voltou a provocar tumulto na Rua Professora Maria Dal Conte. Segundo relatos de testemunhas, o homem estava atirando lixo nos carros e virando latas pela rua. Também teria atacado um pedestre para pegar um boné. Uma equipe da BM se dirigiu até o endereço, e um dos policiais foi ferido pelo homem, o que gerou a reação policial.
- Esse homem era muito forte, danificou uma segunda viatura - diz o capitão Ferraz.
A Polícia Civil requisitará a arma dos PMs para perícia.
- Pelo que apuramos, os dois haitianos agredidos sequer conheciam ele. Também tivemos dificuldade de falar com esse homem na delegacia porque ele misturava português e a língua natal - complementa a delegada Aline.
Dúvidas sobre a origem
Tanto o capitão Ferraz quanto a delegada Aline não souberam informar se o homem trabalhava ou morava em Flores da Cunha. O secretário municipal do Desenvolvimento Social, Ricardo Espíndola, soube do caso pela imprensa. Ele iria averiguar qual era a situação de Moriseme na cidade.
A irmã Maria do Carmo dos Santos Gonçalves, do Centro de Atendimento ao Migrante (CAM), de Caxias do Sul, também tentaria descobrir quem estava alojando o homem para tentar prestar algum apoio.
A Associação dos Imigrantes Haitianos de Caxias do Sul, referência para muitos migrantes daquele país, também não tinha contato com o haitiano morto.