Os temporais com granizo registrados no Estado nas últimas semanas têm gerado prejuízos significativos e deixam de recordação imagens impressionantes - como a de um para-brisa em Santiago que não estilhaçou, mas ficou com buracos grandes e redondos (que aparece no começo desta reportagem). Ao lado das rajadas fortes de vento e chuva intensa, a queda de pedras de gelo é um dos principais responsáveis pelos estragos.
ZH entrevistou especialistas das áreas de meteorologia, engenharia e física para entender qual o potencial de dano das pedras de gelo e quais as formas de prevenção.
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De que tamanho pode ser uma pedra de granizo?
As pedras de gelo que se formam dentro das nuvens podem variar significativamente de tamanho - quanto mais tempo ficam lá dentro, mais camadas vão adquirindo, até ficarem pesadas e caírem. Podem ter desde o tamanho de uma moeda de R$ 0,01 até o de uma laranja - passando pelos tradicionais ovos usados como referência para demonstrar a "grandeza" das pedras. Todos os tamanhos têm potencial para causar danos. Os pequenos perfuram plantas, arrasando as lavouras. Já os maiores provocam prejuízos a casas, carros e até pessoas e animais - mais raro, mas com chances maiores quando maiores as pedras e o tempo de precipitação. Por isso, o recomendado é se proteger durante o granizo.
Lavouras de Venâncio Aires foram arrasadas pelo granizo Foto: Divulgação
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Qual velocidade pode atingir?
A velocidade terminal de queda de um granizo do tamanho de uma bola de pingue-pongue pode passar de 100 km/h. Nessa velocidade, pode furar o para-brisa de um carro. Quanto maior a pedra, com mais aceleração tende a cair, o que aumenta o impacto e o potencial de perfurar uma telha ou amassar o capô de um veículo. Além da velocidade, quanto maior for o tempo da queda, maior é o potencial de estragos, pois aumenta a carga sobre os materiais.
Quais telhados são mais sujeitos a quebrar com granizo?
Não existe regra, porque depende de diversos fatores, como inclinação do telhado, espessura e forma de fixação. Especialistas admitem que a telha de cimento-amianto ou fibrocimento (chamada, muitas vezes, de Brasilit, uma de suas marcas) está mais sujeita a furar com granizo. Uma das mais usadas devido ao baixo preço, esse tipo de telha é pouco resistente a impactos. Quanto mais espessa (as mais vendidas têm entre 4mm e 8mm), mais chance de resistir.
As telhas de cerâmica também são populares no país e, embora mais resistentes - dificilmente se vê esse tipo com furos de granizo -, podem trincar e quebrar se o granizo for intenso, e causar infiltrações. As telhas metálicas são mais resistentes que a cerâmica e o cimento-amianto, e muito dificilmente serão danificadas por pedras de gelo, no entanto, apresentam desvantagens como barulho e desconforto, porque esquentam a casa, sendo necessário usar isolante térmico.
Moradora de Santiago mostra estragos no telhado de cimento-amianto (Brasilit) Foto: Jean Pimental
Existe um tipo ideal de telha contra granizo?
Não, pois depende de outros fatores, como o tipo de ambiente, o clima e a posição. Um dos materiais mais indicados pelos especialistas em relação à prevenção contra granizo é o PVC (plástico), que é mais flexível, por isso pode amortecer o impacto das pedras de gelo e não trincar. Se for utilizado, necessita que a telha tenha aditivos que diminuam as possibilidades de propagação de fogo. Outra opção são os telhados de grama. Assim como as "lajes", podem ser retos (paralelos ao solo), mas têm a vantagem de que a vegetação absorve o calor e evita infiltrações, comuns nos telhados planos de concreto simples. A grama ainda ajuda a amortecer o granizo e se recupera facilmente.
Maior inclinação do telhado diminui os danos?
Sim, principalmente por provocar o efeito de "ricochetear" a pedra de gelo: ela bate e parte para outra direção. Se o telhado ou a telha forem planos, a chuva de granizo tende a pressionar mais a área e pode causar fissuras maiores. No entanto, se a pedra for grande, a inclinação não é suficiente para evitar o dano.
Colocar lona no telhado ajuda a proteger?
Sim. Especialistas apontam que, de forma paliativa, funciona. Para isso, a lona tem que estar bem esticada. Assim, vai funcionar como uma "cama elástica", vai absorver o impacto da pedra de gelo e evitar que a telha quebre. Mas não é um método 100% garantido.
Pedras de gelo podem ser do tamanho de laranjas e cair com mais de 100km/h Foto: Arquivo Pessoal
No carro, melhor continuar em movimento ou parar?
O ideal é parar, tanto pela redução de visibilidade quanto pelo impacto, já que o movimento do veículo vai se somar ao da queda do granizo, potencializando o choque da pedra, sendo o para-brisa, pela sua posição, o mais suscetível ao impacto. Com o caro parado, a pedra tende a ricochetear ao bater no vidro. Lembre-se de estacionar sempre fora da pista, para evitar acidentes e com pisca alerta ligado.
Película no vidro reduz impacto?
A película no para-brisa pode ajudar a evitar que ele se estilhace ao ser atingido, mesmo que os vidros dos carros já tenham um sistema para proteger os passageiros. Mas se as pedras forem muito grandes e caírem por muito tempo, mesmo com proteção, podem furar o para-brisa, por isso o indicado é não ficar dentro de automóveis.
FONTES DAS INFORMAÇÕES: Filipe de Oliveira, engenheiro civil e professor de Física; Jairo José de Oliveira Andrade, engenheiro civil e professor de Engenharia da PUCRS; Moacyr Duarte, pesquisador do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da UFRJ; Ernani de Lima Nascimento, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Meteorologia da UFSM.