Os catalães votam neste domingo em uma eleição considerada histórica, que poderia levar ao poder uma coalizão pró-separatista decidida a conduzir essa rica região da Espanha à independência em menos de dois anos.
As assembleias de voto abriram às 9h (4h de Brasília). Em Barcelona, as varandas foram decoradas com bandeiras amarelas, vermelhas e azuis da independência, enquanto as bancas de jornais exibiam manchetes sugestivas: "O futuro da Catalunha em jogo", anunciava o jornal catalão La Vanguardia. "Seny" (bom senso em catalão), implorava o ABC conservador.
Catalunha encerra campanha eleitoral com separatistas esperançosos
Separatistas celebram grande passeata às vésperas de votação na Catalunha
O diário El Pais evocava eleições históricas, quando, segundo as pesquisas, os catalães poderiam enviar uma maioria de deputados separatistas ao parlamento regional.
Mariano Rajoy, presidente conservador do governo espanhol, fez campanha até o último dia, listando as catástrofes que, segundo ele, vão acontecer aos catalães em caso de independência: a exclusão da União Europeia, forte aumento do desemprego e colapso das pensões.
Um ano após a Escócia, a Catalunha, com 7,5 milhões de habitantes, deve escolher seus deputados e dizer se estes devem iniciar o processo de divórcio com a Espanha.
Seus habitantes estão muito divididos, e poderiam optar pela prudência, dando suas vozes a uma multiplicidade de partidos do "não", como o Partido Popular no poder (PP, direita) Ciudadanos (centro-direita), socialistas, o antiliberal Podemos (esquerda radical).
- Estou emocionado e nervoso. Faz muito tempo que falamos das maneiras de resolver esta questão e, hoje, saberemos se somos maioria - declarou Toni Valls, arquiteto de 28 anos.
Já outros pareciam inquietos, como Mireia Galobart, de 70 anos:
- Este não é o momento de nos separar. Isso poderá me atingir diretamente, se não houver aposentadorias. Precisamos permanecer na Espanha, mas com um governo mais autônomo.
A Catalunha "não é a Escócia", ressaltou, por sua vez, o historiador Carlos Andres Gil:
- Nós não estamos falando de um território secundário para o país, mas da região mais industrializada".
De fato, se a Catalunha deixar a Espanha, levará com ela um quinto do PIB do país, quarta maior economia da zona do euro, além de um quarto das suas exportações.
A possibilidade preocupa banqueiros e empresários. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, também defendem a unidade.
A população da região tem estreitas ligações com o resto do país: três quartos dos catalães têm um avô em outras partes da Espanha. Mas, graças à crise e às más relações com o poder central, o nacionalismo de muitos catalães, orgulhosos de sua cultura, transformou-se em separatismo.
Um sentimento alimentado pelas personalidades envolvidas: Mariano Rajoy de um lado e o líder do movimento, o presidente catalão Artur Mas, do outro.
O primeiro lutou para alterar o estatuto de autonomia reforçado que a Catalunha havia obtido em 2006 e retirou o seu título de "nação". Ele ganhou o caso em 2010, quando o Tribunal Constitucional decidiu que o título não tinha valor jurídico.
Já o segundo, capitalizou o sentimento de muitos catalães de sofrer "maus tratos" por Madri e a ira pela injusta distribuição da renda nacional de acordo com eles.
- É uma questão de dignidade e respeito por uma cultura diferente que eles nem sequer tentam compreender - resume o arquiteto Tony Valls.
Desde 2012, Artur Mas tem exigido repetidamente a realização de um referendo de autodeterminação, semelhantes aos realizados no Quebec ou Escócia, o que Madri rejeita categoricamente.
Após uma consulta simbólica em 9 de novembro de 2014, que recolheu 1,9 milhão de "sim" à independência, Mas finalmente decidiu avançar antecipar as eleições regionais previstas para o final de 2016.
Ele reuniu a maior parte do campo separatista - direita, esquerda republicana, associações - em uma única lista, "Juntos pelo Sim", e pediu aos eleitores para validar seu programa: a "liberdade" já em 2017.
No poder desde 2010, Mas garante estar pronto para avançar com uma maioria absoluta dos deputados (68 assentos de um total de 135), mesmo sem o voto da maioria.
Com os assentos da outra lista separatista, CUP (extrema esquerda), isso poderia acontecer, segundo as pesquisas.
Um cenário que faria a Espanha entrar em uma zona de turbulência, a três meses das eleições legislativas.
* AFP