Há algum tempo, sem respostas convincentes para a violência na periferia de nossas cidades, autoridades da Segurança Pública tentam minimizar a questão, alegando que os assassinatos nessas regiões decorrem das disputas entre quadrilhas rivais de traficantes.
Se fosse apenas isso, o argumento já seria frágil, pois denota a impotência do poder público em conter dois crimes: o tráfico de drogas e a guerra dele decorrente.
Só que não se trata apenas de uma bronca entre bandidos. No meio deles, está a população honesta e trabalhadora, que se vê acuada por tiroteios, balas perdidas e a morte de inocentes.
Foi o que aconteceu na noite de quinta-feira, no Beco dos Coqueiros, na Grande Cruzeiro. Uma dupla tripulando motocicleta invadiu o pedaço sob pretexto de vingar a morte de um comparsa. Sem encontrar o alvo procurado, provocaram uma tragédia: ao atirarem a esmo contra as pessoas, mataram a adolescente Ingrid Hellen dos Santos Borges, 15 anos, que esperava transporte numa parada de ônibus. Mais três adolescentes e uma criança de cinco anos foram baleadas.
Trabalho voluntário
Conforme amigos e parentes, Ingrid nunca se meteu em confusão. Ao contrário, fazia um trabalho social na comunidade, transferindo conhecimentos de informática para cerca de 60 jovens.
A morte de uma inocente inflamou os ânimos dos moradores, que foram protestar na rua. Cerca de 80 pessoas colocaram barreiras na via pública e atearam fogo em pneus. Até os bombeiros foram hostilizados quando apareceram para controlar as chamas. Foi preciso a ação do Batalhão de Operações Especiais (BOE) para conter a revolta.
Mesmo que as pessoas tenham exagerado na dose, o desfecho revelou uma tremenda contradição: na hora de conter o protesto das vítimas, a polícia apareceu em grande número. A mesma polícia tão reclamada para dar um chega pra lá nos marginais e garantir um mínimo de paz e tranquilidade à comunidade. Que incoerência!
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