Dilma Rousseff tem sua parcela de razão. Tirá-la do poder agora, sem provas, seria um golpe. Dilma tem razão. Mas só por enquanto. E talvez não por muito tempo.
Durante a semana, o que era silêncio virou gritaria. Começou com a revelação das articulações para uma eventual renúncia. Nesse cenário, Michel Temer assumiria e se comprometeria a respeitar um acordo de estabilidade e de transição pacífica. Mesmo que ninguém admita publicamente, essas conversas existem. Assim como a tese do impeachment tem seus entusiastas.
Na mesma hora, Aécio Neves foi para o ataque. Michel Temer avança no tabuleiro do poder. Era preciso bloquear espaços. O sucesso de Temer em Brasília transforma o vice-presidente em nome forte para 2018. Aliados do tucano mineiro vinham adotando uma estratégia diferente. Deixar quatro anos sangrando para depois entrar com força na eleição. Esse era o norte. Mas a dinâmica dos fatos ganhou velocidade.
Dilma também ergueu a voz. Elevou o tom para dizer que fica. E, se disse que fica, é porque sabe que alguém quer tirá-la.
Minha linha de raciocínio é baseada em fatos, não em desejos e nem em tentativas de antever o futuro. Tribunal de Contas, Tribunal Superior Eleitoral, Congresso, Lava-Jato, Justiça dos Estados Unidos. O cerco sobre Dilma e sobre o PT está se fechando. Por enquanto, não há provas capazes de comprometer a presidente, seu mentor e seu círculo mais íntimo de poder. Mas, se essas provas aparecerem, muitos dos aliados de hoje - alguns bem próximos - abandonarão o discurso externo de defesa do governo e mudarão de lado. Esse é o jogo da política.
A contaminação da campanha eleitoral da presidente pelos desvios da Lava-Jato é a bola da vez. Nesse caso, Temer poderia cair junto. E novas eleições seriam convocadas. De olho nessa hipótese, não seria difícil para o PMDB tentar provar que as duas campanhas tiveram prestações de contas separadas e, por isso, foram independentes.
Se uma prova contundente ou uma condenação se confirmar - o que é possível que aconteça -, o cenário do país mudará radicalmente. Os movimentos da semana são claros: esforços em várias frentes para ocupar posições. O objetivo sempre foi e sempre será o poder. Não de uma forma afoita. Com calma, estratégia, paciência.
O conflito não interessa a ninguém. Nesse campo de batalha, o recado do Exército é direto e claro: uma das suas prioridades, sempre e especialmente agora, é manter a coesão social. A cúpula militar repete esse mantra com insistência.
O limite entre golpe e democracia é a prova, a condenação de um tribunal. Cenários mudam a toda hora. Mas, pelo que se viu durante a semana em Brasília, parece ser apenas uma questão de tempo.