A presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedica), Maria Milene Alves Gomes, fala sobre as mortes de crianças e adolescentes na Região Metropolitana. Levantamento de Zero Hora e Diário Gaúcho revelou que, nos cinco primeiros meses do ano, 50 menores de 18 anos foram assassinados.
De 50 mortes de crianças e adolescentes, metade foi solucionada
Comissão de Direitos Humanos da Câmara vai investigar mortes de jovens
Metade dos casos já foram solucionados pela polícia. É suficiente?
Solucionar crimes já ocorridos é importante e é louvável que a nossa realidade seja tão melhor que o restante do país, mas essa é uma questão muito mais complexa. Justiça para essa juventude não é só punir quem já cometeu um crime, mas evitar que outros sejam vítimas desses crimes. Porque sem atacar a raiz do problema, continuarão morrendo.
O que falta?
É preciso priorizar a vida dessa criança e o que a levou para a morte. A violência muitas vezes começa dentro de casa. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece que é preciso garantir as condições básicas de vida a essa criança. Quando conseguirmos, como sociedade, fazer isso, aí teremos um caminho aberto para a justiça real.
Como você vê o papel do Estado na atual situação?
O Estado não estabelece de maneira concreta a criança e o adolescente como prioridade, como prevê o ECA. Precisamos cobrar que o orçamento priorize o tema. Desde a abertura de vagas em creches até a mudança na forma de abordar a temática do tráfico. Só com a repressão, já vimos que não funciona. Cobrar investimentos em espaços públicos onde esse jovem seja protagonista e escolas que tenham estruturas adequadas. Muitas vezes o jovem até anda na praça, degradada e dominada por criminosos, e vai à escola, com turmas superlotadas. Quando esses espaços mudarem, é possível que tenhamos um jovem comprometido com os seus espaços. E aí sim, eles vão cuidar o que é deles.
O mapa abaixo mostra onde cada um dos assassinatos aconteceu
*Diário Gaúcho e Zero Hora