José Ivo Sartori comparou a crise financeira do Rio Grande do Sul com a vivida pela Grécia. Em entrevista concedida ao jornalista David Coimbra, o governador disse que o valor pedido pelo país europeu, que entrou em moratória ao não pagar parte da dívida ao Fundo Monetário Internacional (FMI), aos credores corresponde à expectativa de déficit do Estado em 2015.
No entanto, o valor que se aproxima do déficit gaúcho não é o pedido de resgate da Grécia, e sim a parcela da dívida que o país deixou de pagar ao FMI, que representa menos de 3% do pacote solicitado aos credores. Mesmo que estivesse se referindo à parcela da dívida grega, a comparação de Sartori não encontra amparo na realidade, já que, segundo especialistas consultados por ZH, confunde dois conceitos distintos da economia.
- Na situação que vivemos (...), em que a Grécia está pedindo aos credores, ao FMI, à comunidade econômica europeia, US$ 1,5 bilhão que quer negociar, que é exatamente o déficit que o Rio Grande do Sul vai ter no ano de 2015, que tipo de administração financeira nós vamos fazer se temos de cuidar o dia a dia, o cofre, fazer mais com menos e procurar atender a todos combatendo, permanentemente, a criminalidade? - questionou o governador.
Na realidade, o pacote de resgate solicitado pelo governo grego a seus credores beira um total de 60 bilhões de euros (mais de R$ 208 bilhões). A comparação no máximo poderia ser feita entre o déficit público gaúcho previsto para 2015 (R$ 5,4 bilhões) e a parcela da dívida que deixou de ser paga pela Grécia ao FMI na última terça-feira (1,6 bilhão de euros, e não dólares). De fato, convertendo para a moeda brasileira, a cifra do calote grego equivale a R$ 5,5 bilhões, pouco mais do que o montante que o Estado deve fechar no vermelho deste ano. Mas economistas esclarecem que, apesar de semelhantes, os valores não correspondem à mesma natureza. No caso gaúcho, trata-se do déficit: o gasto maior do que a receita. No caso grego, diz respeito a uma parcela da dívida do país com o FMI.
- Déficit é fluxo, dívida é estoque. Déficit é a despesa maior do que a receita em um determinado período de tempo. Dívida é o déficit acumulado. O que tem na Grécia é dívida. É claro que, toda vez que se tem um déficit, que ele for se perpetuando, irá se transformar em dívida. E a dívida, por sua vez, gera uma despesa que contribuiu para formar um déficit - aponta o especialista em finanças públicas Darcy Carvalho dos Santos.
Mesmo que o Rio Grande do Sul tenha chegado ao limite da crise e esgotado as saídas de emergência, ainda não chegou nem perto da situação da Grécia. A dívida gaúcha é de R$ 59,9 bilhões, o equivalente a 18,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado - a grega chegou a 317 bilhões de euros (mais de R$ 1 trilhão), o que corresponde a 177% do seu PIB.