Vergonha. É o meu sentimento diante da reportagem do Diário Gaúcho e ZH sobre a morte de crianças e adolescentes na Grande Porto Alegre. Meia centena de guris e gurias mortos desde janeiro. Uma morte a cada três dias.
São números inaceitáveis, ultrajantes em qualquer lugar do mundo, que colocam sob suspeita o caráter pacífico de nossa sociedade. Que paz é essa que não consegue proteger da morte sequer a infância?
Se é certo que, há muito tempo, estamos livres de guerras contra inimigos externos, é indiscutível também que vivemos uma guerra civil não declarada, em que pobres, negros e a juventude são as maiores vítimas.
Que a triste estatística relevada pelos repórteres Eduardo Torres e Carlos Ismael Moreira na matéria Um adolescente é assassinado a cada três dias não caia no esquecimento, para ser lembrada apenas daqui a um ano, com a divulgação de números mais preocupantes ainda.
Aniversário do Eca
O pior é que não estamos diante de uma novidade: a reportagem registra o agravamento de uma situação que vem sendo denunciada pelo DG desde 2011, quando 27 menores de 18 anos foram mortos em seis meses. De lá para cá, sem providências efetivas para conter o fenômeno, a estatística só piorou, com crescimento de 61% este ano na comparação com igual período do ano passado.
A divulgação coincide com os 25 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (Eca) e deixa evidente que, apesar dos avanços dele decorrentes, ainda estamos muito longe de garantir proteção efetiva para nossa gurizada. Infelizmente, não tenho esperança de que a situação melhore tão cedo. Não se faz mágica sem dinheiro. Com a segurança pública e os investimentos sociais afetados pelos cortes nas contas públicos, só resta rezar e torcer para que, dentro de um ano, não sejamos agredidos por números mais vergonhosos ainda.
Protásio Alves
Após estudante ser esfaqueado por ladrão, a Brigada Militar decidiu colocar um policial de plantão para cuidar da entrada e saída das aulas do Colégio Protásio Alves, em Porto Alegre.
É sempre assim: depois da porta arrombada, a tranca de ferro. Só espero que o reforço seja permanente e não desapareça assim que passar o clima de comoção gerado pelo ataque.