Luiz Antônio Araujo: corra que o realismo vem aí

Esses gregos conseguiram enganar todo mundo. Desde a moratória com o Fundo Monetário Internacional (FMI), passando pelo plebiscito e pela votação tensa no parlamento, era unânime a impressão de que resistiriam com unhas e dentes às exigências dos credores.

O que se sucedeu, porém, foi um anticlímax. O premier Alexis Tsipras, em minoria na cúpula do próprio partido, entrou no plenário para colher mais um triunfo. Não, Tsipras não conseguiu reunificar a bancada que o elegeu. Dos 149 deputados de sua agremiação, 32 votaram contra o pacote, seis abstiveram-se, um se ausentou e uma (Zoi Konstantoplou, presidente do parlamento, que não vota) deixou clara a oposição às medidas.

Tsipras venceu graças ao apoio dos partidos que quebraram o Estado grego e maquiaram estatísticas para ingressar na zona do euro. A isso, sumos sacerdotes de certa macroeconomia de Berlim a Lisboa - e às vezes até mais abaixo - chamam "vitória do realismo".

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À medida que as horas passam, fica claro que não são os gregos, e sim outros sócios do clube do euro que resistem às medidas propostas. O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, afirmou que o desligamento helênico da moeda única é "o melhor para a Grécia e para os gregos".

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Schäuble não presta atenção ao que se vota em Atenas, mas deveria ouvir o FMI e o Banco Central Europeu, para os quais a revisão da dívida grega é urgente. Aliás, o FMI está fora da operação de resgate à Grécia em razão da moratória de junho. Há nisso uma ironia: foi o governo alemão que arrastou o Fundo àquele outro memorável triunfo realista que foi o resgate grego de 2012.

Resta agradecer ao realismo por ajudar a tornar as coisas mais claras. E também por ter nos legado Ésquilo e Aristófanes.

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